[Você pode ler este texto ao som de Clumsy]
Desculpe deixar para te contar só agora, mas achei que estivesse implícito quando você me conheceu e fomos para aquele bar na Augusta tomar uma cervejinha descompromissada e comer uma porção de fritas com maionese temperada. Eu não sou do tipo que vai aceitar tudo calada.
Não, meu querido, longe disso. Eu ando pelas ruas da cidade tentando imaginar até onde meus passos poderiam ir. Saio por aí com aquela calça de flanela que você odeia, mas não é nada pessoal. Só não acho que sou obrigada a estar linda todos os dias, com aqueles saltos que me doem o pé e a make up que vai derretendo com esse calor louco que faz lá fora. Ter meus momentos de cabelo preso em um coque mal feito é um dos meus direitos fundamentais garantidos pela minha própria constituição.
Quando a gente sair com seus amigos, não pense que farei o tipo meiga, porque não sei nem por onde começar neste improviso. Gosto de ver o futebol de domingo mesmo sem saber o nome de todos os jogadores e não vejo problema nenhum nisso. Grito um palavrão cabeludo quando estou irritada (o que acontece com frequência, confesso) e espero que você não se importe. Quando não vou com a cara de alguém, não finjo ter engolido aquela situação. Isso me dá indigestão e sempre foi assim.
Não sei ser o que nunca fui, não sei mentir sem ser essa pessoa desastrada que vive com alguns roxos espalhados pelo joelho e braço por ficar esbarrando nas coisas e nem perceber.
Não pense que pode me pedir por modos, meu amor. O meu modo é esse, de oscilar de humor mensalmente e querer ficar um tempo comigo mesma. De sair para as (raras) festas e fingir saber dançar, fazer o passinho do robô sem se importar se estão olhando ou não. De fazer uma piadinha idiota sem esperar por risadas ou por mais alguém me achando um pouco idiota. De chorar no cinema com um filme desses que o mocinho morre no final. De rir até chorar com a minha gargalhada “discreta”.
Essa sou eu. Esse é o meu jeito. Não prometo que vou mudar, até porque não exigiria nada parecido de você. Mas eu juro tentar aceitar o seu estranho jeito de ser se você se propuser a aceitar o meu. E tem coisa mais verdadeira do que dois estranhos se entendendo juntos?
Não me peça modos, meu bem. Me peça uma cerveja no bar, um chocolate quente em Campos do Jordão, uma porção de fritas naquele boteco da Augusta, como nos velhos tempos que você não se importava se eu realmente era assim, ou se era tudo improviso para parecer que não ligava. Repito: eu não ligo.