Também conhecida como “choque de realidade”, uma twenty-something condition (“crise dos vinte e poucos anos”, em tradução livre deste que te escreve) define aquele período da vida, entre os vinte e os 29 anos, em que a gente se vê… perdido. Pode acontecer aos 23, aos 25, aos 28: uma hora os amigos e as amigas começam a casar em lindos ternos e vestidos, alugados ou não, e a morar em seus próprios apartamentos (alugados… ou não) e a comprar carros, usados ou não, e até empreendem viagens incríveis que incluem trabalho voluntário no Nepal e na Tailândia, enquanto você, criança das cidades do vale que mal sabia respirar, se vê em lágrimas ao lembrar que Malhação nunca mais fará sentido, te restando maratonar Grey’s Anatomy pela enésima vez. E chorar. Sem. Saber. Por. Quê.
Entende?
Se já não aconteceu contigo, provavelmente vai – ou já está!
Felizmente, estamos aqui pra lembrar que a vida não tem fórmula: vai dizer que você se arrepende de ter usado seus vinte e poucos anos pra assistir A Hora da Aventura na Netflix ou maratonar de novo a Saga de Hades dos Cavaleiros do Zodíaco? Isso não exclui sua futura independência nem destruirá seus sonhos – o clímax da vida de cada um é disparado por turning points diferentes! Logo, dá pra pegar a felicidade de várias formas.
…Mas, como o choro é livre e a tristeza é justificável, compartilho algumas músicas, todas lançadas esse ano, que tratarão da crise dos vinte e poucos com sucesso e, juntando a sorte e a identificação, te ajudarão a sair dessa (quando e se vier!). Assim você fica com o coração quentinho e fica antenado com os lançamentos desse ano.
Vai dando play!
Lady Lamb the Beekeeper – Spat out Spit
*pausa dramática para este clipe maravilhoso*
Avisando desde já que é impossível tirar o álbum “After” dos melhores de 2015, recomendo “Spat out Spit” como reflexo da alma perdida. Sentada de boas no trem, Lamb viu uma senhorinha bocejando e teve uma epifania: how strange we all are? Esse verso dá espaço para uma porção de questionamentos e para o refrão mais catchy do indie-rock-folk-pop deste ano até agora. Chegando a questões herméticas (“deixei meu corpo na cama, mas minha consciência tá flutuando pelo teto”), Lady Lamb se percebe um ser não humano – “my animal heart is pumping that animal blood” – e deixa ressoar a pergunta: será que eu dormi esse tempo todo e só sonhei com a minha vida?
Que fase.
Bleachers ft. Grimes – Entropy
“Entropia” é um termo complicado para quem não é de exatas, mas, num resumo canhestro, é o que define a desordem de um sistema. Se aplicando em estruturas químicas, quanto mais bagunçada a coisa, maior a sua entropia. Entende o paralelo? Bleachers e Grimes – a “ame ou deixe-a” do mundo seapunk – produziram essa faixa para a série Girls, da HBO, e, tanto série quanto música se enquadram na crise. A saída proposta? “Leave me lonely”.
Em tempo: tudo indica que Grimes lançará álbum ainda este ano.
Modest Mouse – Stranges to Ourselves
Esquecer parece ser a pílula proposta pelo Modest Mouse neste que é o primeiro single do álbum homônimo lançado este ano. A crise dos vinte e tantos pode ser apenas mais uma das coisas que nós criamos quando estamos confusos – mas que, eventualmente, passa, a gente supera e, como qualquer bobeirinha, esquece-se. Aos amantes do bom rockzinho sujo que estão em twenty-something condition, Modest Mouse é o caminho.
José González – Every age
Servindo como o Merthiolate das idades feridas, “Every age” tá aí pra lembrar que a crise dos vinte não é a única da vida: cada idade, cada era de nossas tem o sofrimento da vez; algumas coisas mudam, outras ficam iguais – e tudo bem. Que bom que existe a música e o José González pra acalmar a gente! Nascido na Argentina e criado na Suécia, ele lançou o álbum dele, “Vestiges & Clawns” depois de oito anos escondido em alguma caverna. Vale à pena ouvir tudo dele – é um abraço na alma.
Quantos choques de realidade são necessários para perceber que uma twenty-something condition são necessárias à transição pra vida adulta? A crise dos vinte e poucos já chegou em você? Além de Fábio Jr. e seus vinte e poucos anos, que mais você escuta? Divide com a gente 🙂
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