É tarde, amor


[Você pode ler este texto ao som de Summer Is Over]

É tarde. Entre a promessa do pra sempre e a indecisão do quem sabe, a gente se perdeu pelas ruas tortas do nosso caminho. A gente se esqueceu entre as contas, os cursos, as viagens, a distância, o meu trabalho, a tua faculdade, as promessas que não foram dando pra cumprir, o cansaço dessa obrigação louca que a gente se impôs de ter que fazer o outro feliz.

Eu sempre soube que alguns amores tinham prazo de validade, mas achei que, com a gente, dava pra salvar. Achei que arrancando as pontas podres, dava-se um jeito e a gente sobreviveria ao caos. Olha só, eu falei, é muito amor pra aceitar que qualquer pouca coisa assim vai estragar. E foi por isso que eu insisti, por isso que eu sempre voltei, por isso que eu esperei que você sempre voltasse também. Coloquei na cabeça que só amor bastava. Foda-se todo o resto. Foda-se a vida. Foda-se esta história de que amar não é fácil. Eu quero é viver só de amor, eu pensei.

Mas eu não perguntei se você queria viver do meu amor também.

Vez ou outra, quando as feridas que você deixou voltam a sangrar, tenho uma vontade louca de pegar o telefone e te ligar. Penso que se eu te xingar passa. Se cutucar suas feridas, dói menos. Se gritar que te odeio, te esqueço. A verdade é que queria mesmo era perguntar: como pôde não ter sido eu? Pior. Como você pôde ter insistido tanto que era?

Por outro lado, culpar só você também é um tanto injusto. Ou melhor: tentar achar culpado em qualquer fim é um pouco de perda de tempo. E é tarde, amor. Pra tudo, até pra gente. A verdade é que, se eu te xingar, não vai passar. Se gritar que te odeio, é mentira, cê sabe. Se tentar cutucar suas feridas, vou acabar cutucando também um pouco as minhas. Talvez fosse eu, na época, não é? Talvez você tenha achado mesmo que era. É que não deu.

A gente se esqueceu na correria do meu e do seu dia, entre as conversas que a gente deixou de ter, os silêncios agonizantes antes de dormir, as vezes em que eu te queria e você não, e as vezes que você me procurava e eu fugia. A gente se esqueceu naqueles abraços frios de fins de namoro, nas mãos que já não se entrelaçava, nos beijos não dedos.

A gente se esqueceu no passado, amor.

Talvez seja por isso que acabou.

Karine

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