[Você pode ler este texto ao som de Pra Sonhar]
Sempre fui dessas que não tem vergonha de sentir saudade, e hoje não foi diferente.
Bom, na verdade foi. Porque pela primeira vez foi com você: engoli toda a mágoa que o seu medo e sua fuga me causaram e deixei a memória buscar toda a parte boa do nós que vivemos. Pra ser sincera, hoje até entendo seus medos e motivos, mas isso não vem ao caso.
Nosso timing e nossas expectativas podem ter sido erradas, mas o que passamos juntos na época pareceu bem certo: desde sua cara de pau ao vir falar comigo no meio de um batalhão de gente estranha até nossa decisão em nem se dar ao trabalho de tentar algo mais sério.
Seu excesso de comprometimento com o passado e minha excentricidade em planejar um futuro nos separou, antes mesmo de começarmos.
Mas eu senti saudade de como você me olhava com vontade nos olhos. De como tinha medo de me perder e de como se revelava sentimental na pillow talk depois da transa. Do sorriso de canto de boca que soltava ao me ver chegando de longe, de como não sentia vergonha de ser você mesmo quando estava comigo.
Quase senti seu cheiro na cama e lembrei do que estava escrito em cada um de seus bilhetes tarados espalhados pela casa. Fechei os olhos pra lembrar de como eu me derretia enquanto você tocava violão ao pé da cama, ainda suado e semi-nu, depois que transávamos. De como era vidrado nos meus pés (e na minha bunda).
Sorri escondido ao lembrar da tara que você demonstrava em locais públicos, me deixando sem graça e com tesão ao mesmo tempo. Deliciei-me em lembrar do seu ciúme bobo e descontrolado, pedindo satisfação a toda hora. Lembrei até daquela vez que você quase deu um soco no moço da mesa do lado, lá de cima do palco enquanto eu te assistia e ele me paquerava. Lembrei também de como nos resolvemos mais tarde entre lençóis.
Ouvi sua voz pertinho do meu rosto, e aquele seu jeito sem jeito de dizer que queria ficar comigo mas tinha medo do meu jeito moleca. Lembrei de como você gostava de frutas e sexo no café da manhã, e mais ainda quando eu lhe trazia na cama, vestindo apenas sua camiseta da noite anterior.
Engoli todo meu orgulho e vim aqui confessar que por você eu teria mudado o meu mundo e o meu jeito, só pra ficar no seu. Por você eu talvez até tivesse casado. Eu teria escrito um livro, plantado uma árvore e quem sabe, feito um filho.
Hoje não te quero mais, mas ainda te levo comigo; pra poder lembrar de tudo isso e usar sorrisos tímidos de maneira contida, esporádica e sincera do que poderia ter sido quando precisar suspirar. Deixei-me também um pedaço, pra você nunca se esquecer de lembrar de mim, ou da intensidade do que tivemos e nunca admitimos: muito mais que o combinado de “só sexo” inicial.
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