[Você pode ler este texto ao som de Let It Snow]
Àquela altura eu já sentia saudade de muitas coisas, mas com certeza seu perfume era uma das que mais me fazia falta. Eu nunca te confessei isso com todas as letras mas acho que você sabia, porque nas nossas conversas pelo skype, cê sempre lamentava o fato de, depois de tanto tempo longe um do outro, quando finalmente fossemos nos ver você estaria sem o perfume que eu tanto gostava.
As ruas de Manchester já estavam totalmente pintadas de branco quando eu peguei a jaqueta de couro que você elogiou e resolvi fazer uma última tentativa. Passei por uma loja de perfumes pequena e discreta que ficava atras do pub que eu frequentava e perguntei pra atendente um pouco sem esperanças, porque ele estava em falta, mas ela me sorriu e disse que tinha um no estoque. Não sou o melhor cara do mundo para dar presentes, mas daquela vez eu nem precisei vê-lo pra saber que tinha acertado. Pedi para embrulhar.
Logo que desci do avião te avisei que tinha chegado. Eu já sabia que cedo ou tarde conheceria a sua família, mas gelei quando você me disse que seria naquele dia. Eu poderia recorrer à toda minha experiência em reuniões de família da namorada dessa vez, o problema é que ela era aproximadamente nula.
Tive a impressão de que eles me acharam mal educado porque durante todo o tempo eu não falei muito, só fiquei pensando num jeito de me costurar em você e não sair nunca mais. Mas achei errado, não sei porque, mas por algum motivo seu irmão gostou de mim, até me convidou para passar a noite de natal com vocês, o que não ajudou nenhum pouco com o meu nervosismo.
A neve e o vento estavam fortes naquele dia, até perdi o papel aonde eu tinha anotado o endereço, mas isso não foi problema porque você tinha gravado um áudio com o endereço e eu ficava ouvindo repetidamente, então já tinha memorizado. Sua voz fazia mais falta que seu cheiro, sabia?
Quando cheguei foi você quem abriu a porta para mim, e eu que estava acostumado a te ver em roupas de verão, percebi que você consegue arrancar suspiros de mim mesmo num casaco de inverno. Eu estava de casaco também mas o frio realmente só passou quando você me tomou nos braços e, pela primeira vez, eu entendi o sentido daquela frase “o melhor lugar do mundo nunca foi um lugar”. Você era meu vermelho no meio de todo aquele cinza.
À meia-noite trocamos os presentes e fui eu quem teve uma surpresa. Eu não sabia que o frasco do perfume que você usava tinha a forma de um coração. Eu dei sorte, você adorou o presente e seu sorriso sincero fez eu não me importar em ter te dado um presente repetido. Sim, repetido porque eu já tinha te dado outro coração muito tempo atrás, o meu.
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