Você não é ela


[Você pode ler este texto ao som de It Ain’t Me Babe]

Me desculpa por ter te puxado da sua roda de amigas aquele dia lá na Lapa e ter te feito cair na minha conversa mole de bom-moço. E desculpa ter feito você gostar de todas as bandas que eu gosto, vai ficar difícil pra você esquecer de mim agora que eu fui embora e te deixei com trilha sonora.

Soube que você comprou uma camisa do Vasco, desculpa por isso também.

Desculpa ter te levado pro cinema em Botafogo, mesmo sabendo que você morava na Barra. Vi que você guardou os nossos ingressos como recordação, e o filme nem foi tão bom assim. Faltou sal na pipoca e na gente. Também desculpa pelos abraços sempre tão mecânicos, é que depois dela, abraçar ficou tão sem graça quanto aquele seriado água-com-açúcar que você assiste. Me desculpa por nunca ter paciência pros seus seriados e não ver TV com você no sofá de um domingo frio, inclusive. É que eu tinha medo de te congelar.

Desculpa por todas as preocupações que eu não tive. E por todas as ligações que eu não respondi por ser desligado ou só por estar tomando uma cerveja com os caras. Não tinha outra quando você me acusava, quer dizer, até tinha, mas ela já tinha ido embora há muito tempo, tinha passado, o problema era com o que tinha ficado. Desculpa também ter sido metade com você, mas meu coração e minha cabeça, que não são de concordar, entraram em consenso e resolveram ir com ela. Ah, e desculpa pelos beijos por aquilo que você não tinha.

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Eu não tentei te enganar, eu queria era me enganar.

Desculpa por nunca ter fechado a minha mão na sua, mas é que minha mão ainda tá aqui aberta esperando a dela pra voltar, igual todo o resto do meu corpo. Também me desculpa por ter continuado naquela coisa despretensiosa e por não ter percebido que você já tinha algum sentimento. Desculpa continuar usando o mesmo perfume – mesmo com você tendo me dito que te causava alergia -, mas ela me disse que esse era meu cheiro e eu continuei usando pra ela me reconhecer se passar por mim e eu estiver distraído.

Desculpa, enfim, por eu ter um sem-número de textos e textos pra ela e nunca ter te escrito nem um bilhete no dia seguinte. Desculpa e me entende, porque eu nunca quis magoar você, mas eu sou e sempre fui dela, e mesmo que quisesse ou tentasse te escrever, eu voltaria ao lugar comum de rabiscar e riscar os esboços. Me desculpa, mas você não é ela.

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