Eu tinha alguns relatórios pra entregar e uns textos pra escrever quando decidi procrastinar um pouco na internet. Scrollando o feed, dei de cara com uma ilustração da minha amiga Luiza de Souza, que mantém o projeto “Ilustra, Lu” no Facebook (clica aqui pra conhecer), e li algo que me deixou um pouco reflexivo.
Descobri que a ilustração era a representação de Luiza pra um vídeo-poema-ou-prosa de um escritor-ator chamado Neil Hilborn. Ele conta a história dele com a mulher dele e como o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) interferiu no relacionamento dele. Ao contrário do que eu pensava, o cara não leva tudo pro lado ruim da doença. Ele mostra como até as dificuldades e as coisas que a gente acha que são ruins na gente podem ter um lado gracioso e romântico.
O texto é genial e a interpretação é melhor ainda. Deixo abaixo o vídeo com legendas e a transcrição do texto pra quem quiser guardar de recordação. E fica a grande pergunta do vídeo: como o amor pode ser considerado um erro?
TOC, de Neil Hilborn
“A primeira vez que a vi… Tudo na minha cabeça ficou quieto. Todos os tiques, todas as imagens constantes passando simplesmente desapareceram. Quando você tem Transtorno Obsessivo-Compulsivo você realmente não tem momentos tranquilos. Mesmo na cama eu estou pensando “Será que tranquei as portas? Sim. Será que lavei as mãos? Sim.”. Mas quando a vi, a única coisa que eu conseguia pensar era na curva delicada dos seus lábios… Ou no cílio na bochecha. Eu sabia que tinha que falar com ela. Eu a convidei para sair seis vezes em trinta segundos. Ela disse que sim depois do terceiro, mas nenhum deles parecia certo, então eu tinha que continuar. Em nosso primeiro encontro, eu passei mais tempo organizando a minha comida por cor do que comendo, ou falando com ela… Mas ela adorou. Ela adorava que eu tinha que beijá-la dezesseis vezes antes do adeus ou vinte e quatro vezes se era quarta-feira. Ela adorava que demorava muito tempo para ir para casa por causa das rachaduras na calçada. Quando fomos morar juntos, ela disse que se sentia segura porque ninguém jamais nos roubaria já que eu definitivamente tranquei a porta dezoito vezes. Eu sempre olhava sua boca quando falava. Quando ela disse que me amava sua boca se curvava nos cantos. A noite ela deitava e ficava me olhando enquanto desligava as luzes. Desligava e acendia, desligava e acendia. Ela fechava os olhos e imaginava que os dias e as noites passavam em frente a ela.
Algumas manhãs eu começava a beijá-la mas ela apenas saía porque eu a estava atrasando para o trabalho… Quando eu parei na frente de uma rachadura na calçada, ela apenas continuou andando… Quando ela disse que me amava sua boca era uma linha reta. Ela me disse que eu estava tomando muito do seu tempo. Na semana passada ela começou a dormir na casa de sua mãe. Ela me disse que não deveria ter me deixado ficar tão apegado a ela, que a coisa toda foi um erro mas… Como pode ser um erro que eu não tenha que lavar as mãos depois de tocá-la? O amor não é um erro e está me matando que ela pode correr disso e eu não. Não posso! Não posso sair e encontrar alguém novo porque sempre penso nela. Normalmente, quando fico obsessivo sobre as coisas, eu vejo germes se esgueirando na minha pele, vejo-me esmagado por uma sucessão interminável de carros… E ela foi a primeira coisa linda ao qual eu já fiquei preso. Eu quero acordar todas as manhãs pensando na maneira como ela segura o volante. Como ela gira os botões do chuveiro como se estivesse abrindo um cofre. Como ela sopra as velas. Agora, só penso em quem a está beijando. Não consigo respirar porque ele só a beija uma vez, ele não se importa se é perfeito! Eu a quero tanto de volta… Deixo a porta destrancada. Deixo as luzes acessas.”