[Você pode ler este texto ao som de The Pieces Don’t Fit Anymore]
Você fuma? Diz que fuma, por favor. Eu tenho alergia. Tô tentando te estragar um pouco aqui antes de entrar nessa de cabeça. Exijo umas falhas tuas pra botar a insegurança em jogo. Quem sabe eu até desista antes de tentar? Mas você não tem cara de tragar todas essas substâncias garganta adentro. Tem cara de quem engole o choro. Destemida. Queria que você temesse tanto alguma coisa que fosse mais real perto de mim. Calma lá! Não é medo de comparação. Deve ter alguma aversão bacana que te faz pior que as outras pessoas. Se não tiver, eu invento, sei lá. Tô precisando mesmo achar alguma coisa estranha em alguma boa pessoa pra poder me projetar de novo dela.
Quero planejar um campo minado de pequenas explosões tuas pra eu já ir preparando o meu peito pra aguentar a angústia de um grande amor perdido. Pra dizer que eu já sabia desde o início e que o meu pé atrás tava ali pra me avisar que cair de cabeça é o mesmo que se afundar. Coração em carne viva. Fratura exposta da fragilidade. Fica em cima do muro e não olha pra baixo de jeito nenhum. Porque eu vou ter mais medo de dar de cara contigo – se o olhar for sincero – do que de cair de alguma altura qualquer.
Me diz o teu signo que eu vejo se a gente combina ou não. Vai ser papo pro primeiro encontro e pra primeira discussão. Na banca de jornais, um aviso sobre mim no seu horóscopo: ele é de lua, moça. Cuidado com a natureza contraditória do sentimento dele. Ele diz que quer ir embora enquanto grita com os olhos que ficaria por você. Mas tem um medo danado de admitir isso pra si mesmo. Rei da autossabotagem, moça. É bonito pra literatura e preocupante pra encontros marcados com datas regulares em dias úteis. Ele é de lua e vai inventar um monte de motivos pra cada fase dele – e pra não ter que encarar que gosta mesmo de você. Vai reinventar os Astros pra justificar que não era pra ser.
Talvez não desse pra ser mesmo.
Talvez fosse destino.
Talvez eu só seja de lua. E não queira admitir o meu pavor em me ver feliz com você. Numa rua movimentada. Cobrindo o rosto com as mãos pra espantar o rubor. Querendo congelar aquele momento pra viver nele pra sempre. Ignorando todo e qualquer defeito – real ou inventado – que se projetasse na minha frente…
Mas diz, cê fuma?