Eu arranho as cordas vocais de um jeito desafinado só pra te irritar. Eu canto sobre a gente num karaokê em algum lugar da Augusta e brindo a você num copo pequeno daqueles de bar. Eu deixo de esconder a minha timidez por trás das lentes grandes dos meus óculos e deixo tudo ficar embaçado só pra sentir a sua respiração mais de perto. Eu tiro esse aviso bem grande de “por favor, me ignore” de frente da minha camiseta – e eu só uso isso por medo de tropeçar ou gaguejar caso você resolva vir falar comigo qualquer dia desses. Pra você gostar de mim eu imito Cazuza e crio uma ideologia pra gente viver a dois. Que solidão que nada. Eu quero é que um dia desses nasça logo pra gente ser feliz.
Pra você gostar de mim eu confundo o tempo. Faço o nublado virar chuvoso e uso a desculpa pra te aquecer. Ligo o ar-condicionado no máximo e digo que não tem cobertor, mas tem pipoca, um filme qualquer e eu pra te fazer companhia. Eu deixo você me usar como segunda pele, que é pra eu te sentir mais minha. Ah, e brinco de gangorra com você lá no alto. Prometo ser legal e não te deixar suspensa por muito tempo. Que é pra te tirar de evidência quando as suas bochechas corarem e você já não quiser mais brincar. Compro chocolate belga e te sujo toda de brigadeiro de panela pra gente rir junto depois. Pra você gostar de mim eu paro até de combinar vermelho e verde pra dar alguma tranquilidade no nosso tom.
Eu apronto uma serenata, uma passeata ou alguma forma nada discreta de me declarar. Monto palco, estudo cena após cena e dispenso o curso pra me mostrar pra você. Sinto e o que eu sinto não precisa de interpretação – nem minha, nem das palavras que eu jogo por aqui e por ali. Vomito espontaneidade porque duvido que alguém goste tanto de você assim, exageradamente verdadeiro como eu. Se achar nojenta demais a metáfora, eu não retiro o que disse. Mas pego um pano pra limpar as bordas, os excessos e deixo com você só o que você for capaz de carregar. Eu aguento a carga por mim e por você, desde que você não considere um fardo durante o tempo. Desde que você fique porque gostou do que viu e porque sentiu no peito aquela angústia chata que pede pra ficar, e fica martelando sem parar na cabeça. Eu mostro que a gente não foi feito um pro outro – e por isso mesmo é que eu antecipo a fala pra te acalmar. Eu prometo que vai ficar tudo bem – na maioria das vezes. Pra você gostar de mim eu dispenso o felizes para sempre e tento fazer com você o felizes por agora.
Pra você gostar de mim eu tiro a máscara. Me desnudo sem pudores na sua frente. Me mostro cru e com todos os defeitos do mundo que podem ser encontrados em alguém. Deixo você me conhecer melhor e nem precisa fazer tempo de experiência. Pulo as primeiras impressões e jogo com as segundas, as terças, quartas e assim por diante. Estendo a semana e estendo também as minhas desculpas pelo exagero da declaração. Eu te deixo ver meu lado mais sensível. Meu lado menos ogro e mais doce. Pra conquistar os sorrisos que você me der e permitir que você entenda que homem também chora e só chora se tiver um colo de mulher pra descansar a cabeça nos dias difíceis. Compenso a falta de alguma coisa com mais atenção e com mais carinho. Pra você gostar de mim eu mostro que caras como eu existem aos montes por aí e você só não vê direito porque tá com pressa ou porque não olha além das calças meio largas demais ou do cabelo bagunçado deles. Alguns mais tímidos que outros, outros mais enrolados que alguns poucos. E pra você ficar por mim eu escrevo essa carta. Mal pontuada e meio atrapalhada. Que é pra você já entender o meu jeito e os meus modos desavisados. Que é pra te dar algum motivo pra ficar comigo – caso eu consiga roubar algum riso abafado ou sorriso de lado antes de chegar ao ponto final.