[Você pode ler este texto ao som de Running Up That Hill]
Isso não te machuca? Essa sensação que dá calafrios e você não consegue explicar de jeito nenhum. Quando a gente acorda meio virado do avesso, meio achando o mundo estranho demais. A carga negativa se mistura ao suor da pele e evapora no ar. Contamina. Transforma a atmosfera numa poluição mais perigosa do que qualquer concentração de CO2 das grandes cidades. A respiração fica mais lenta e mais pesada – e o nariz sangra. Vai ver é o modo com que o corpo encontra de manifestar a dor que a gente não enxerga. Dor que punge sem ter ferida exposta. É algum incômodo involuntário que acontece de uma hora pra outra – e por isso a gente é taxado de bipolar. Não tem a ver com o mundo: tem a ver com a gente.
E daí que a gente tem que parar um pouco. Silenciar os movimentos. Deixar que as coisas sigam um fluxo e a gente pare. Mesmo que isso atrase um pouco, sempre acho que vai fazer bem. Melhor seguir o caminho correto do que tropeçarmos nos próprios pés numa corrida pelo mundo. Já me disseram uma vez e eu repito aqui: cada pessoa é um mundo, e o mundo não pertence a quem chega primeiro. Pertence a quem se descobre e entende que o seu ritmo deve respeitar os seus próprios movimentos de rotação e translação. Algumas vezes o sol vai estar encoberto – e vai de você entender que o tempo cinza é reconfortante ou não. Se tiver que se recolher, se recolha. Descanse ou observe. Nem tudo na vida precisa ser um eterno “decifra-me ou te devoro”. O nosso desafio é não fazer das coisas desafio. Um ciclo de esfinge que pode atingir muito além do humor de um dia ou da TPM de outro.
Pra toda atitude nociva nossa, vale uma reflexão: o que faz mal vale a pena? Se valer o desgaste, o suor, a corrida e o que mais você tiver que sacrificar: vá em frente.
Se o momento pede calmaria para que o mundo não desabe nas costas de uma vez: então pare por aqui. Um chuveiro com água morna e umas boas horas de silêncio podem ajudar.
E, se nada disso der certo e a angústia estranha no peito persistir, faça um apelo a quem quer que te guie nesse mundo: Afasta de mim todo mal que persegue, que atravessa, que se faz presente sem ser notado. Afasta os que são desnecessários e indesejados. Afasta essa sensação de que as coisas não estão bem e, mesmo que elas não estejam, me faz enxergar o outro lado se o revés for mais bonito e der mais esperança. Silencia o meu peito e me deixa ouvir as batidas – sejam as da porta ou o ritmo do coração. Me mostra que o caminho de dentro é mais importante que o de fora, e que a pausa que antecede a linha de chegada pode evitar uns arranhões severos no corpo. Me mostra que a calma não é depressão e que isso tudo vai passar daqui a pouco. Se não passar, que eu consiga passar por isso. Se não passar, que eu consiga encontrar um lado bom no meio de tanta coisa ruim. Que eu me descubra em alguma paz, mesmo que a paz pareça não ser o tema desse texto – ou dessa oração.