O primeiro cartão que eu escrevi na vida.


 

Não sei se eu só te acho fofa, ou se essa vontade de ir adiante é genuína. Você não é do tipo de garota que eu chamaria pra tomar um sorvete na quadra da escola. Nada… Acho que com você eu sentaria com umas canecas de chocolate quente e ficaria olhando pro seu rosto. Com cara de bobo.  De mãos dadas e um beijo na trave. E ia querer fazer você corar com um beijo arrancado de surpresa pra confundir a sua respiração e fazer o seu coração acelerar. É meio que o tipo de garota pra quem eu tocaria umas canções clichês e pediria em namoro numa tarde ensolarada. Mas primeiro eu aprenderia a tocar violão, porque eu ainda não sei. Mas você é de música de amor alegre. De copa de árvore e livro aberto.

De coração pesado e dentes rangendo – só por esperar algum sinal de comunicação seu que me fizesse mexer os dedos por trás da tela do computador. Você não saberia, mas eu abriria um enorme sorriso. Porque qualquer assunto com você é um beijo de boa noite, e uma dança confusa de quem não liga se eu não sei dançar, e eu até te levaria para alguma casa de praia na garupa da minha bicicleta com flores na cestinha – mesmo que a gente não tivesse a tal cestinha. Eu fico nervoso com cada oi que você me dá, e podem rir de mim. Ninguém entende a minha razão, e nem eu entendo muito bem porque fico gaguejando sempre que você me dá um beijo no rosto. É mais ou menos o tipo de garota que me faria contar pro papai e pra mamãe que eu conheci uma tal garota e que vou casar com ela. De pelúcias no natal e de não saber o que fazer na hora de dar tchau, mas te vejo amanhã, hein. De não deixar ninguém chamar de namoradinha porque isso desclassifica o meu amor, e de enraivecer sempre que alguém disser que a gente é só criança. No amor todo mundo tem a mesma idade. Seja com meus 12 anos ou com uns 30. Eu tenho certeza que me apaixonaria por você mesmo se eu fosse um daqueles mocinhos desastrados de filmes que cruzam bares e beijam a garota errada enquanto a garota certa vê tudo e vai embora chorando. Provavelmente, eu seria o cara do táxi, porque é ele quem sempre te leva pra casa. Eu seria aquela sua almofada de tartaruga, porque é bem a minha cara pedir pra minha irmã comprar algo assim pra te dar no seu aniversário. Eu meio que seria o seu melhor amigo por quem você se apaixona – mas eu não quero esperar um filme inteiro pra isso. Você é o tipo de garota em quem eu colocaria um anel de biscoito no dedo e mostraria pros meus amigos. E acho que você continuaria rindo e me dizendo que a gente é novo demais pra isso tudo, e que amor igual àqueles livros é só quando a gente crescer. Mas você é de fazer o tempo passar rápido, porque coisas boas fazem o tempo voar. Seja aqui na sua casa ou no parquinho. Será que a gente vai ser como as duas partes de uma ponte suspensa ou será que vão nos deixar ficar juntos? Acho que quando eu crescer, eu vou querer ter você. Você é de apertar as bochechas e rir porque eu ainda tenho dentes de leite. De mandar cartinhas e me esconder atrás da cadeira esperando você ler. De dizer pra todo mundo que é amor, e o mundo todo acreditar. De soletrar o seu nome pra moça das flores e pedir que ela entregasse esse cartão junto delas. De esperar uma resposta pra saber se você gostou ou se era melhor ter mandado chocolates ou jogos de videogame ou outra coisa qualquer. Você é o tipo de garota que é o meu tipo. De estar aqui. De estar comigo.

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