À flor da pele (breve desabafo de uma mulher na TPM).


Não vai embora agora e nem me deixa sozinha agora. É que eu acabei de ver um filme meio água-com-açúcar e meus olhos deram uma embaçada, mas deve ser ter sido um cisco ou algo do tipo. Mas que mocinha de filme burra! Como é que ela deixa o cara ir embora sem dizer que gostava dele e que teria feito de tudo pra ele ficar aqui? Você devia parar de rir da minha sensibilidade à flor da pele e vir aqui me dar um abraço. Ou manter distância. Você tem duas escolhas e vai pagar a consequência de qualquer uma das duas, meu bem.

Não adianta nem me oferecer chocolate porque isso é tão clichê e eu vou ficar puta da vida achando que você quer me controlar. Eu não sou nenhuma adolescente bobinha que precisa de um cara do lado fazendo gracinhas e perguntando se eu estou na TPM. Mentira. Pode pegar o chocolate. Sei lá, é que eu ando meio sensível, meio instável, meio com raiva de todo mundo, mas isso logo passa. Para de me olhar e me tira pra dançar, poxa! Eu sei que é meio impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo, mas faz tempo que você nem lembra qual é a nossa música. Ah, viu como eu tenho motivos pra detestar essas coisas que você fala sem ter que estar na TPM pra isso?

Eu quero roer todas as minhas unhas ainda hoje e se você vier dar pitaco sobre elas, mas não falar nada sobre o meu cabelo, você vai sofrer. Eu queria passar um tempo fora e me perder pelo mundo. Tenho a impressão de que o meu lugar não é aqui e que essas coisas todas são muito poucas… Eu queria viver um filme como esses que a gente vê, mas sem água com açúcar. Eu prefiro que sejam filmes com muita canela ou muita pimenta pra exagerar no sabor. Ou pode ser agridoce também. Eu aceito. Você devia parar de rir antes que eu pule em você. Será que você não tem a menor ideia de que essa dor que eu sinto não é nem um pouco engraçada? Não me responsabilizo todo e qualquer comportamento agressivo que eu tenha a partir de agora, meu bem.

Ainda bem que eu tenho você pra trocar as lâmpadas e matar os bichos. Mas não começa a se gabar, porque eu posso fazer tudo isso sozinha. É que eu prefiro ser salva às vezes… Não vai achando que eu sou uma princesinha de contos que precisa de homem para o resgate. É que faz bem ter quem vá atrás da gente de vez em quando. Pega o pote de sorvete no freezer? Você me irrita com essa sua mania de dar uma risada sempre que eu falo algo. E não me venha com “nesses dias você fica um charme” que eu te mando pra puta que pariu. Mas repete de vez em quando porque o meu ego gosta de ouvir. Será que você me acha realmente linda assim, meio irritada e meio fora de mim? Deve ser só pra me agradar. Eu só queria que você me desse mais atenção e carinho, sabia? Só não gruda demais porque daí enjoa.

Talvez eu seja só uma garota no meio de alguma coisa que nem ela mesma sabe explicar. Esse fardo de ter que ser mulher o tempo todo, de engolir o choro e levantar a cabeça, de não poder correr atrás porque a gente tem que valorizar a porra do orgulho no lugar das outras coisas… Eu quero poder cuspir o choro, me trancar num quarto com quantas almofadas eu quiser e ter o direito de não falar com ninguém porque eu não quero ouvir das pessoas que “tudo vai ficar bem”. Não vai ficar bem! Pelo menos agora não. E eu sei disso. Eu quero poder ser menininha, mulherzinha e todos esses inhas que os homens dizem que eu não posso usar de jeito nenhum. Eu quero correr atrás de alguém que eu realmente goste e queira aqui comigo, e que se danem as minhas amigas que me mandam correr na esteira e esperar que ele venha aqui, sentada. Eu odeio ter que malhar. Você acha que eu tô meio inchada? Acho que vou começar uma dieta na segunda. Não vai falar nada? Ah, vai! Me deixa sozinha agora e volta só depois de um tempo…

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