Eu quero deslizar por cada minúscula parte da sua perna por debaixo do pano. Deixa pra lá as convenções sociais dessa mesa pra dois e finge que o meu salto escorregou pra perto de você. Tá valendo se desculpar depois se você agir agora. Deixa o garçom pra lá e o guardanapo também. Eu vou cometer esse deslize e estragar a etiqueta. Quero mais é me encostar em você e sentir aquele choque cuidadoso e o esbarrão dos olhares fingindo constrangimento. Quero constranger você de dentro dessas roupas sociais. Prometo que acerto a conta depois do encontro.
Eu quero fugir com você daqui. Você podia desafrouxar a minha gravata no seu criado-mudo. Deixa esse vinho pra lá e as pessoas bem vestidas conversando sobre o mundo também. Tá valendo me entregar as chaves do carro depois se você sugerir que prefere ir pra sua casa. Deixa essa conversa boba e esses nossos sorrisos educados. As minhas primeiras intenções com você são bem diretas e não querem mais se esconder por baixo dessas calças comportadas. Quero mesmo é que você largue os sapatos por um tapete qualquer e me mostre as suas unhas vermelhas. Prometo que tiro as meias antes de deitar.
Será que você ainda não percebeu que eu já mexi no cabelo e olhei pro relógio algumas vezes? É a sua deixa para me tirar daqui. E me mostrar a sua porção interessante de verdade. Cá entre nós, eu já li os mesmos livros que você e conheci os mesmos lugares. Você fala bem e tal, mas eu quero é que você corte a minha pele com um beijo de surpresa. Quero saber se tem encaixe ou se a gente se resolve sozinho. Deixa o prato principal pra lá. Eu quero mesmo é que você me segure pela cintura e me envolva. E nem precisa puxar a cadeira pra isso.
Eu vou ter que passar mais tempo falando da arquitetura desse lugar ou contar alguma piada para tirar uma risada sonora sua? Eu dispensaria os talheres e queria mesmo era usar as suas mãos para me cravar o caminho nas costas. Eu quero te mostrar como é que se devora uma rua no frio. Rasgar a sua segunda pele pra te cobrir com um abraço forte. Revirar o teu vestido de dentro pra fora sem perder o passo do sotaque divertido que você me disse gostar. Cá entre nós, eu já reparei que você não fica corada comigo. E só esse fato já me faz querer sentir a sua temperatura. Deixa a sobremesa para lá e vem comigo. Eu cozinho alguma coisa enquanto conheço a tua casa. Eu deixo você escolher o prato, a música e a dança. E a gente pode dispensar o garçom e os figurantes das outras mesas.
– Então vamos pedir a conta?