“Passado de mulher é igual cozinha de restaurante: se conhecer não come”. Recebi essa frase de uma amiga no fim do dia. Uma amiga que me conhece desde o passado. E que sabia que despertaria em mim a sementinha da desconstrução.
Fiquei pensando: é uma coisa quase que inconsciente. Nós, mulheres, não costumamos levar nossos passados como se fossem o que realmente são: algo que faz parte da gente. Diferente dos homens, não se vê muitas mulheres por aí comentando as próprias experiências sexuais com a naturalidade que lhes cabe. Faz pouco tempo, na praia com duas amigas, ganhamos um espaçinho emprestado no guarda-sol de um moço. Sentamos, abrimos uma cerveja gelada e decidimos discutir a fisiologia do órgão sexual masculino. É uma pena que eu não tenha tido a oportunidade de tirar uma foto da cara do rapaz (estava mais ocupada descrevendo o que é mais do meu agrado) porque, aqui, ela seria o retrato perfeito do que quero dizer.
Acontece que é raro que mulheres discutam o que gostam, o que conhecem e o que já fizeram em alto e bom som. Normalmente essas conversas são cochichos. A gente cresceu pra falar disso bem baixinho, bem discreto. Na verdade, a gente cresceu pra não falar. Isso tudo por dois motivos: o primeiro é o princípio óbvio do machismo, que é silenciar. Quanto mais a gente fala, mais a gente pensa. Pensem sobre isso; O segundo é um fruto do primeiro. É meio que um jogo, uma estratégia, um plano B pra quando a gente se recusa a ficar quieta. Condenar nossas opiniões, nossas histórias, nossas experiências até que a gente se convença que ou a gente se cala, ou jamais seremos abraçadas amigavelmente pela sociedade.
É o seguinte, vou escrever em letras grandes que é pra todo mundo entender: MEU PASSADO ME CONDENA. E eu tenho o maior orgulho disso. Acho super divertido que eu já tenha perdido as contas de quantos homens passaram pela minha cama (sem fazer a soma das camas por onde passei). Não me importo mesmo de falar sobre esse assunto de forma individual ou numa mesa de bar com as amigas e os amigos.
Fico um pouco incomodada quando me perguntam da minha vida sexual como se ela fosse um segredo guardado a sete chaves. Não faço dela um segredo. Faço dela uma parte de mim, porque é isso que ela é. Assim como trabalho, como bebo água, como ando e como amo, faço sexo. E não vejo nenhum sentido em tratar essa realidade de uma forma diferente e assustadora. Gosto quando meu celular apita e é uma sugestão de qualquer coisa pra escrever aqui. E acho bem bacana quando alguém diz que eu vivo escrevendo putaria por aí.
O sexo é meu passado. Meu presente. Meu futuro. E falo sobre ele. Escrevo sobre ele. Que é pra deixar bem claro: quem não conhece a cozinha, não sabe o gosto do tempero.
Você também pode gostar desse assunto. Assista ao vídeo abaixo: