[Você pode ler este texto ao som de 99 Problems – Hugo]
O problema de hoje em dia é que essas meninas andam decididas demais. Mal saíram das fraldas e já querem sair por aí com síndrome de ninfeta. São umas delícias, eu sei. Do tipo que a gente joga na cama e oferece um algo a mais. Elas são insaciáveis. E emocionalmente instáveis na maioria do tempo. Juventude perdida, sexualidade bem achada. Mas meu problema mesmo é que algumas delas vêm e vão e outras ficam. E eu tenho um apreço especial pelas que marcam pelo cheiro. Cheiro de sexo e de perfume caro. Me passa teu baseado e vem por cima, ela disse. E foi assim que eu conheci o maior problema da minha vida.
Os jogos de lençóis foi ela quem escolheu para eu deitar com as outras. Essa morena que tava aqui agora é da noite passada e não vai voltar mais, eu sei. Sexo gostoso. Ela cheira bem e gosta da coisa. Sem nojinho algum, fez bem feito e pra valer. Mas eu continuo achando clichê a cena clássica dela levantando pra ir ao banheiro nua, eu acendendo um cigarro e os lençóis sujos que vão pra lavanderia mais uma vez. Ela queria demais de mim e não queria nada. Volto já, querido. E vai voltar pra cama, eu vou dizer que foi só sexo e ela vai embora frustrada. Igual a todas as outras. Menos a que escolheu os lençóis para que eu deitasse com as outras.
Eu parei de fumar por causa dela. E ela até gostava do cheiro forte de cigarro que ficava no quarto. Era viril, segundo ela. Mas é que aquilo me deixava sem olfato e eu queria poder sentir o cheiro dela. Quando chegasse perto e de longe também. Eu queria poder viver a vida dela se fosse possível. Só pra ter certeza de que ela voltaria todo mês para escolher novos lençóis e dizer pras amigas que conseguiu me prender e que eu era um cara bacana, apesar desse meu lado ogro. Ela me ganhou onde todas elas me perdem: no dia seguinte. Não veio aqui pra casa e nem quis encarar um motel de beira de esquina. Disse direto: minha casa ou nada feito. Fui com receio de não conhecer o terreno. A gente trava quando o caminho é escuro e quando a gente não sabe se o chão pode ceder. E era a primeira vez em muito tempo que eu não fazia o mesmo caminho do bar para a minha casa para o corpo dela para o meu banheiro para a rua. Era loira, era sexualmente ruiva e uma simpatia morena que a gente vê pouco por aí. Uma dessas meninas que a gente sabe que vão dar jeito na gente ou nos destruir por completo. E era uns 10 anos mais jovem ainda. Não sabia nada sobre whisky, história, baseados e sexo com amor. Mas tinha a selvageria e o frescor da juventude.
O problema é que ela era uma dessas meninas decididas demais. E enquanto eu tinha a certeza de que queria estar com ela, ela também tinha certeza. Ela sabia o que queria e não era eu. Ela queria o mundo e queria experimentar o mundo. Ela queria parar de beber algum dia e visitar uma catedral ao norte de Amsterdã. Ela jurava que queria conhecer alguma criança com os olhos parecidos com os meus e ter um filho só para depois dizer que conheceu alguém melhor que eu. E nós daríamos risadas disso. Ela queria ser exatamente como eu era e queria ser ainda mais livre. Aprendeu isso comigo e viu nos outros da geração dela o que era essa busca. E eu acabei por me render aos copos, aos poemas, a Bukowski e à busca pelo sexo e pelo amor perfeito. É a idade. Ou é essa reflexão matinal que chega depois de uma noite corrida e cansada. A morena tá demorando demais naquele banheiro e eu acho que ela apagou. Mandei pegar leve no álcool e nas drogas, mas ela não ligou pra mim. O cheiro dela até que é bom, mas é um cheiro moreno de ser. Sem outras colorações e sem aquele algo a mais de quem sabe o que quer procurar. Provavelmente, ela vai me perder quando sair do banho. A culpa não é dela de todo, nem do cheiro dela, nem da noite passada. É que ela me quer e sabe disso. Só não sabe escolher lençóis novos como ela sabia.