É por trás dos copos de uísque que se escondem verdadeiras histórias que não deram certo. Eu admito que me perdi pelas minhas desculpas esfarrapadas e pelo meu gosto nada convencional por paladares fortes e nem um pouco suaves. Permita-me pular toda essa enrolação e explicar-lhe a minha história. Mas, antes, um aviso: eu gosto de brincar com metáforas e usar delas pra demonstrar mais inteligência do que eu realmente possuo. E esse português rebuscado cheio de vírgulas e construções não tem nada de culto. É só mais uma maneira de tentar agregar algum valor a uma imagem que um dia já foi contente e jovial.
Eu venho aqui nesse pub todos os dias. É genial essa visão de mulheres bonitas disfarçando a sua futilidade com um sorriso e a percepção de que morrem de medo de ficarem sozinhas. Tem também desses caras que gastam todo o salário pagando drinks na esperança de levar uma delas pra cama. E tem os típicos canalhas bonitões que só piscam e conseguem a gata da noite numa bandeja. Meu tipo é mais desses observadores. Não me entendam mal, eu sou bonito e tenho bastante dinheiro que o sucesso no mercado publicitário pôde me render. Uso ternos bem fechados, com cortes italianos e sapatos que reluzem. Toda aquela baboseira fashionista que alguém comentou um dia que era legal e as mulheres gostaram. E faz mais de dois anos que eu não vejo a mínima graça em algum desses personagens, além do meu copo e da garçonete que o enche.
Eu não me acho o cara certo pra falar de amor. Um ilusionista, talvez. Eu tenho lá as mulheres que quero com um bom papo e uma forma de conduzir na valsa que só eu sei. Altas, baixas, magras, esbeltas, latinas, europeias, todo tipo que você pensar. E você acha que eu sou feliz? Nem um pouco. Eu disfarço a maior frustração da minha vida com noites de farra e amigos num apartamento bem localizado no coração da cidade. Eu sou um desses desiludidos da vida que nunca vão encontrar a garota certa pelo simples fato de já tê-la encontrado e ter perdido a oportunidade. Coisa de garoto novo que não sabe lidar com a pressão do dia-a-dia e com as tensões de um relacionamento sério. Aquele medo de perder a liberdade, de se prender, de perdê-la em caso de passo em falso. Hoje em dia eu posso dizer que é tudo um bando de bobagens que a gente inventa pra se privar de viver algumas coisas e de quebrar a cara com elas. Eu podia ter quebrado a cara uma, duas, três vezes e estar com ela agora. Ou ter me dado muito bem na conduta do relacionamento e ele ter chegado ao fim do mesmo jeito. Mas não, eu simplesmente tive medo de seguir em frente e fiquei parado aqui. Ela seguiu.
E essa casca grossa revestida de sucesso e confiança só serve pra conquistar mulheres bonitas que vão durar algumas poucas semanas na minha vida. Perdi o interesse por quem não me jogue no chão e me faça mudar toda a minha visão de mundo. Se não for pra ser assim, não precisa nem vir. Jogos de conquista são meu ponto fraco, mas até disso eu enjoei depois de um tempo. É aquela velha história: chega uma hora em que se não for pra ser amor, que seja nada. E que dure tão pouco quanto uma garrafa de gim na mesa de um alcoólatra. Não sou romântico, não. Longe de mim. Sou mais um homem que resolveu contar a vocês que a maior desculpa da minha vida é que não sirvo pra relacionamentos. Eu sirvo se for com quem também me serve da maneira certa. Meninas bonitas vão ser apenas meninas bonitas depois da festa. Mas e tudo aquilo que interessa? Aquela preocupação em atender um telefonema ou mandar uma mensagem bem escrita. Tudo aquilo que é fundamental numa relação que não encontro em mais ninguém? Acreditem, não estou comparando meus relacionamentos com o que ela foi pra mim. Só digo que ela me estragou pro mundo. E eu vou ser sempre aquele cara com que não se tem a possibilidade de futuro nem de um presente breve.
E pode confiar em mim. Existem mais alguns caras sentados em bares ao redor do mundo, rindo da vida, destilando a imagem do sucesso e da felicidade. Eles se sentem mais vazios que o meu copo nesse momento. Caras como eu são mais comuns do que vocês imaginam.