Nós.


[audio http://dl.dropbox.com/u/104739227/Lenine%20-%20Hoje%20eu%20quero%20sair%20s%C3%B3%20-%20from%20YouTube%20by%20Offliberty.mp3|titles=”Lenine – Hoje eu quero sair só”]

Eu e você temos algo que nos prende um ao outro. Somos pouco mais que um só e pouco menos que dois. Somos nós. E não falo da primeira pessoa do plural. Falo em nó, em enlace, em ligação. E o pior é que não somos nós de nós mesmos.

Nos prendemos a outras histórias, outras redes infinitamente enroladas. E cada um dos nossos nós aporta num lugar diferente. Cada um deles conta uma história que alguém não conhece. Uma história que só pertence a mim ou a você. Tentar desvendar um nó teu é pedir que você me entregue a chave da sua casa. Tentar te pedir para apagar um nó é pedir que você rompa com a linha da sua vida, com tudo o que você escreveu no mundo.

Meu bem, eu venho pensando em nossos nós. Em como cada um deles me parece uma ameaça quando quero apertar o nosso laço. Eu sei que é egoísmo meu. Minha história também não é vento de domingo, sempre foi uma grande tempestade de segunda-feira. Vai ver por isso tantos nós que me atracavam a portos seguros por ondas sem sentido nem direção. Entretanto, eu nunca fui bom marinheiro. Nunca soube dar bons nós.

E daí me aparece você. Assim, desse jeito. Já havia te visto num porto próximo, sempre à espera de alguém que acertasse o compasso e o ritmo do nó que te prenderia ao outro lado do oceano. Alguns viajaram contigo, fizeram jantares com direito a violinos nas tuas cabines. Mas nenhum deles conseguiu te distrair com a lua cheia do convés, e você sempre percebia quão longa a viagem seria. E você sempre sentia afrouxar a tua companhia. Daí você voltava para o cais. Nunca triste e resignada, mas com um sorriso esperançoso tão lindo que encantava todo e qualquer passante por ali.

O problema é que acertar o teu nó era questão de sorte. De jeito. De destino. E agora eu me vejo nessa situação. Eu te vejo, simples e forte perto de mim. E todos os teus outros nós me ameaçam, por mais soltos ou rápidos. Pouco me importa. Eu realmente não vejo mais meus outros nós, não vejo mais a minha velha história. Não é só a vontade de apertar esse laço, de te trazer pra mais perto, de te abraçar até perder todo o meu ar. É vontade de te levar pro outro lado do oceano. É vontade de te levar pela viagem inteira e te mostrar como cada fase da lua pode ser maravilhosamente bela.

Não é vaidade. Não é necessidade de me firmar num porto. Pelo contrário. Quero apertar nosso nó para te deixar sempre em movimento. Pra te fazer mais forte e mais simples. Pra te deixar levantar as velas e apontar a direção que você quer seguir. Eu só quero que você me leve junto. E prometo que, como bom marinheiro que me tornei contigo, consigo transformar o nosso nó em nós.

Comentários