Procuro rumo por entre os escombros do que sobrou de mim. Desalojei meus vícios, minhas virtudes, meus medos e minhas manias.Tornei-me despido de preceitos e conceitos que carregava antes daquilo tudo acontecer. Alguns de vocês podem dizer que foi só mais uma das minhas longas histórias bobas de envolvimento romântico na qual atuei para conseguir a catarse de que preciso. Outros podem julgar que foi um longo dramalhão em que estive perdido sem saber muito bem o que fazer. Sem desrespeitar suas opiniões, só posso dizer que foi amor.
Eu só consigo ver o lado bom de tudo isso.Fez com que eu me aproximasse mais ainda de quem eu gostaria de me tornar um dia. E vocês vão dizer: “Como assim ? Se ela foi embora sem dizer motivo, fugiu com as suas razões, te deixou sozinho …”
E eu que era o pessimista da história, pois é… Não vejo como um abismo essa situação. Consigo enxergar além, ver o resto de caminho do outro lado do penhasco. O problema é atravessá-lo sem ponte nenhuma. E ficar nessa cidade sem fim não é bem o ideal para recomeçar a minha jornada. Mas tudo bem. Não faz mal parar um pouco e pensar sobre a vida.
Sabe, eu tenho sido cruel comigo mesmo por todo esse tempo. Nunca parei pra pensar em como fui egoísta em exigir companhia em todas as minhas viagens. Acho que fui mimado demais e resolvi nunca aprender a andar sozinho. E, com isso, acabava levando todas aquelas minhas paixões por cidades errantes, por um número infinito de não-lugares. Eu as deixava me ferir, feria também pra acompanhar reciprocidade. Mesmo que não tenha sido recíproco à mesma pessoa. Achava muito injusta essa coisa dos dois sairem ilesos da história. Alguém teria que ceder para mostrar que valeu a pena, mesmo que fosse eu.
Agora eu vejo bem melhor que antes a direção pr’onde o vento sopra. O problema não eram as companhias, era o caminho. Se eu tivesse acertado o GPS antes, conferido o mapa, decidido pra onde ir… Talvez tivesse evitado um sem-número de situações envolvendo minha bipolaridade romântica. Ironia foi encontrar conclusão pra minha vida nessa cidade das solidões perdidas enquanto leio a última carta que alguém mandou. Logo agora que decidi que nada, nem mesmo ela, vai me fazer mudar meus planos. Será que consigo mudar essa mania de não conseguir estar sozinho ?
Todo mundo um dia já disse que depois de uma grande lição de moral, vem a mudança. E daí vem a recompensa pra alguns dos nossos erros. Recompensador seria achar um jeito de andar em frente sem cair nesse abismo de novo. Droga, e eu que só vim pra esse lugar pra poder conhecer a outra cidade atrás do penhasco.
E assim eu vejo. Ela, talvez, não tenha percebido ainda. Mas vem na mesma direção que eu. Eu aqui, sentado, encarando o meu passado, de costas pra onde deveria haver essa maldita ponte. Ela vem correndo, com um sorriso no rosto, parecendo ter decidido seguir em frente. Ela, talvez, ainda não saiba que não há como passar. Mas quando chega mais perto e se joga ao meu lado, fica difícil imaginar que algo seja impossível para essa garota. Ela, talvez, me conte toda a sua vida e descobrimos que o que nos levou até ali era a vontade de acertar, nem que fosse uma vez ao menos. Ela, talvez, não saiba. Mas a partir do momento em que escolhe ficar ao meu lado, procurando um modo de seguir em frente, me dá as mãos. E me convence de que finalmente encontrei caminho.
Ela, talvez, não tenha entendido ainda. Mas ao me chamar para fora da cidade das solidões perdidas, me convida a ser sua ponte. E se torna meu novo caminho. Ela, talvez, não tenha certeza do que irá encontrar pela frente. Mas me deu a certeza de que preciso dar alguns novos passos na direção dela, se eu quiser recomeçar de verdade.