Meu bem,
Isso não é mais uma carta de amor.
Esperei por tuas vontades, cacei motivos para te dar como explicações. Você não quis me dizer aonde ia, muito menos quis me levar contigo. Eu, Romeu confesso dessa história, tentei me manter o mais próximo possível da lealdade a qual me dediquei. Mas, meu bem, você não quis me deixar te mostrar o meu mundo.
Eu soube no momento exato em que te vi naquela noite, que a minha promessa não te havia cativado. Foi quando descobri que não podia me dar por inteiro para você, porque você só queria a parte mais leve, mais sensata. A parte de mim que poderia ficar na tua cabeceira, aquela que você poderia consultar a qualquer momento da noite enquanto não conseguisse se explicar pra si mesma. O que aconteceu com o sorriso que eu te despertava no rosto? Fui eu quem sumiu ou isso que nunca existiu de verdade?
Meu amor, eu entendo os teus motivos. Mentira. Não os entendo. Eu só finjo que sim pra não me mostrar mais do que já o fiz. Eu, que sempre trancava a casa, escancarei minhas janelas pra você entrar. Você sequer se interessou em me fazer uma visita. Mas me deixou imaginar como seria o meu mundo se você dissesse sim.
E agora, o que foi que eu me tornei? Já não consigo mais pensar em amor, paixões, romance ou essas histórias mentirosas que contam os livros que você me recomendou. Meus filmes não justificam mais nenhuma palavra doce ou suspiro inocente. Já não suporto mais enxergar a felicidade dos outros enquanto carrego esse meu sorriso mentiroso. Pintei em mim aquela máscara que eu costumava adorar em você.
Isso aqui, meu bem, é carta de despedida. É pra quando você achar necessário me procurar por algum dos cantos do seu quarto. É pra deixar contigo a última frase que passou pela minha cabeça da última vez que olhei nos teus olhos profundos: Eu desisto. E se você se perguntar onde está a poesia da minha escrita… Ela se foi no mesmo momento em que deixei de acreditar em você. E não se preocupe: não vou escrever mais para você.
Não se desculpe, porque encontro culpa em mim. Ou não. Na verdade, acho que nenhum dos dois é culpado por esse ato cordial que se deu. Eu estendi um convite, você não aceitou bailar. Ficamos os dois trocando de pares a noite inteira, enquanto nenhum deles acertava o passo do outro. Não há culpa no ato de não querer alguma coisa. Fui eu quem cansou de tentar entender as regras desse jogo injusto que se chama amor.
Ninguém tem culpa em não haver mais esperança. Em não haver mais história. Em não haver mais nada. Mas, então, de quem é a culpa agora se não tenho mais como fazer de você um sonho meu?