Todo homem que sofre algum tipo de angústia já deve ter recorrido a uma boa dose de álcool num boteco da vida, fazendo amizade com o garçom, só conseguindo chegar a casa por intermédio de um táxi. Eu o faço sem necessidade de angústia. Minha mesa de bar é lugar de organizar as minhas idéias da forma mais contrária possível: desorganizando-as. Eu me acompanho copo após copo como se fosse leitura íntima de cada página do meu objeto de pensamento.
E não é que eu defenda o alcoolismo. Mas memórias difusas sempre nos fazem ver coisas que nunca vimos. Pode ser que se consiga enxergar algum fato no meio daquele turbilhão, entender alguma palavra mal dita depois de misturar contextos, se desiludir enquanto descobre o motivo do problema, se encontrar depois de mergulhar no fundo da sua mente. Meu recanto é mesa de bar. Arrumo a toalha como se fosse para reclinar a cabeça em descanso, olho o fundo do copo como se procurasse resposta, sinto a lucidez me esvaindo enquanto me deparo com um mundo novo de perspectivas que nunca havia descoberto.
Minha embriaguez me comove. É sinal de que consegui expandir meus sentimentos que andavam tão duros e cegos. Sinto falta de alguma coisa que, por coincidência, é a mesma coisa que procuro. Minha visão me engana nitidamente. A esta altura eu não me engano sozinho, mas não vejo por razões maiores que eu mesmo. Minha paz é mesa de bar.
É engraçado como o garçom pode se tornar meu melhor amigo. Acho que o fato dele não me conhecer e não promover julgamento parcial sobre tudo o que conto a ele me faz gostar mais dele. Os conhecidos são sempre juízes de valor. Seja o quanto valho, seja o quanto valeria o que falo. Tenho a capacidade de dizer os meus maiores segredos ao desconhecido que me serve o elixir da confusão. Meu labirinto de segredos é mesa de bar.
E mesmo que depois de algum tempo eu já não possa pensar em mais nada, sozinho e sem acreditar na realidade que me cerca, eu ainda não me arrependo. Minha mesa de bar é meu sinal. É minha válvula de escape. Minha válvula de encontro comigo mesmo. E o táxi que o garçom chama é meu condutor de volta ao mundo do qual tentei me desviar.
Você pode me chamar de bêbado a esta altura do campeonato. Mas eu me chamo de humano. Você pode me chamar de covarde. Me chamarei de filósofo. Você pode me chamar de estúpido. E eu te mostrarei que é numa mesa de bar que eu encontro a poesia mais delicada que eu já escrevi um dia.
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