São quase algumas horas para o término do meu prazo. Mais um dia normal na companhia dos meus melhores amigos: a solidão, meu estojo e algumas poucas idéias. O problema dessa vez é que repito o meu clichê entediante sobre a dúvida do que está por vir. Não sei se deveria julgar o certo ou o errado dessa vez. Não sei se me encontro hoje ou amanhã. Meu tempo não me dá razão alguma, meu travesseiro não me dá um porto seguro para descansar do temporal que se aloja dentro da minha cabeça. Sei menos ainda no que pensar…
Olhando pra fora da minha janela dá pra encontrar algumas nuvens de tons desconhecidos. São mais imagens do que nuvens, na verdade. Fotografias distantes de alguém que aprendeu a manipular o algodão doce. O limbo dos sonhos perdidos de milhares de crianças é o céu. Certamente eu não me encontro naquele céu. Eu mesmo não sei onde estou…
Olho novamente para o que estou fazendo. Caneta e papel em mãos. Eu os utilizo muito mais como um escudo do que ferramentas para a escrita. Minha escrita é um sopro sem força, sem um mínimo de vontade. Mas quando balanço o papel ela forma um vendaval capaz de formar confissões nas bocas mais incrédulas. Apesar de todo esse poder nas minhas histórias, eu não sei o que estou fazendo. E o meu tempo vai caminhando…
O que ? Onde ? Por quê ? Se desistisse de responder essas três perguntas que alimentam a minha dúvida, talvez tivesse mais tempo para me ver hoje. O relógio anda tentando me vencer… Enquanto o tempo se esvai, eu fico e decido. E reconsidero a minha decisão. Acho que encontrei a resposta do que eu quero. Para isso eu vou largar meus escudos, minhas pretensões e vou lá. Vou lá me encontrar, bater um papo comigo, deixar dessa monotonia de suposições. Vou lá ver como eu estou, se eu vou bem, se sinto saudades de mim. Vou lá me encontrar sem me questionar demais a cada passo que eu dou. Vou lá ser um pouco meu sem precisar de respostas.