O título desse texto começa exagerando. Não é possível que um longa metragem tenha me ensinado tanta coisa assim em tão pouco tempo. Nem a excelência da atuação de Zooey Deschanel e Joseph Gordon-Levitt , nem a trilha sonora impecável com Carla Bruni e The Smiths, muito menos a fotografia individual e bem construída dos momentos do anti-casal poderiam me ensinar 500 coisas tão rapidamente.
Por isso mesmo explico que o título não se atribui ao filme em si, mas sim à personagem Summer. Como toda mulher, ela mostra o retrato de uma geração que se perde entre as vontades, as necessidades, o acaso e as conseqüências disso tudo.
Summer é uma mistura de tudo o que se pode esperar da mulher-ícone de uma geração alimentada pela cultura pop – e me recuso a restringir a sua influência apenas à cultura britânica, visto que ela possui traços identificáveis em várias partes do mundo e com origens na cultura norte-americana dos “happy endings” também. Ela traz a beleza não-tão-comum da maioria das belas do cinema, mostrando que franjas e rostos angelicais podem ser pivôs de grandes romances sem necessariamente seguirem padrões Hollywoodianos.
Saindo dessa rápida descrição da personagem em si, vamos ao que interessa. Ela nos ensina muito em matéria de expectativas e comportamento. O primeiro ponto é sobre a forma como lidamos com um acaso. Se parar pra pensar, você está diante da mulher que reúne em si todas as qualidades e características que você sempre quis. Além de ter um gosto musical extremamente compatível com o seu – o que é muito importante. Qual seria a expectativa óbvia desse cruzamento de informações? Exatamente, meu amigo. Você se apaixona perdidamente por ela.
À primeira vista, nada mais comum que isso. O grave problema é como lidar com uma mulher que faz parte do time das que se dizem desiludidas e não acreditam em relacionamentos depois que você já se apaixonou por ela. O que você pensa? Você pensa naquela famosa frase de esperança de todo homem que se apaixona por uma “loveless”: Comigo pode ser diferente.
E pronto. O estrago está feito. Na história, Tom Hansen consegue iniciar um relacionamento com a mulher mais interessante do mundo para ele. E, com um senso deturpado e idealizado da noção de amor – influência da cultura dos “happy endings”, sem dúvida – se vê num labirinto. Ao mesmo tempo em que gosta dela e não quer perdê-la, ele não aceita a falta de status num relacionamento.
Daí vem outro ponto alto que aprendi com ela: A necessidade de etapas num relacionamento está altamente ligada à sensação de segurança. Temos a idéia geral de que cada etapa implica em regras de convivência com direitos e deveres pré-estabelecidos. Não chamaria isto de problema, mas essa noção social que temos transforma o que poderia ser um romance passageiro tranqüilo num jogo de expectativas e frustrações. E Summer, mostrando que a sinceridade pode ser interpretada por crueldade num relacionamento em que não se está disponível, quebra a segurança a todo o tempo por não estabelecer status. Essa idéia de liberdade das “loveless” é algo magnífico. Para elas, é claro. Para os que se envolvem com elas, isso significa muita dor de cabeça e muito uísque.
E quando tudo vai bem, de repente, o mundo de Tom Hansen acaba. Isso seria crueldade da sua linda Summer? Acredito que não. Como disse antes, havia sinceridade. Mas sempre se espera que “comigo seja diferente”. E, quando não é, a primeira reação é focalizar toda a culpa nela. Nos seus dentes perfeitos, nos seus lindos olhos azuis, no seu gosto musical peculiar, no modo como ela fala e anda…
Depois de vários dias ainda amarrado a Summer e caindo aos pedaços, Tom entra na segunda fase do filme – que poderia ser um romance qualquer desses de fotografia bonita. Summer, a desiludida, já está em outra história, pronta para casar, pouco depois do término. E o que isso me ensina? (Que ela é uma filha da puta do cacete). Que nem sempre o que você sempre quis é o melhor para você. Ela era o melhor para outra pessoa e vice-versa. E que querer demais não é culpa sua. Mas deve-se aceitar o fato de que um verão inteiro é demais para se carregar sozinho quando ele não é para você…
Basicamente, todos já tivemos alguma Summer em nossas vidas. Seja pela sinceridade com que ela tratava as coisas, pela desilusão em saber que não éramos o cara diferente para ela, pela dificuldade em aceitar que ela pudesse ser de outro ou pelo simples fato de não conseguirmos nos acertar com as proposições dela. Summer não é aquela guria que sacaneou legal o guri apaixonado. É aquela que tinha certeza de nada, pegou sua mão pelo caminho, gostou de ficar por um tempo, mas continuou a seguir. Ela parou, é claro. Não foi ao seu lado, mas parou. E essa foi a grande lição para mim: As Summers da vida conseguem achar repouso em alguns braços. E é isso que motiva.
De resto, paixão idealizada, filmes de final feliz, acreditar que o amor é produto do acaso e a necessidade de segurança quando se tem alguém do lado servem para rever os meus conceitos. Aliás, recomendo que façam o mesmo. Talvez você não precise de uma primavera para fazer durar a estação.