Quase-crônica sobre o tempo ou relatos de uma visão embaçada


Estava eu – solitário, impaciente e distraído – num shopping aqui do Rio de Janeiro. Esperava por pessoas que demorariam a chegar, então fiz questão de procurar um lugar pra sentar e esperar. Com mais de 7 kg de peso na mochila e um celular pedindo pra mandar mensagens ociosas para amigos, comecei a abstrair de tudo.

Daí, não mais que de repente, eu notei uma coisa que nunca tinha notado. Já parou pra pensar no ritual de um casal em dar as mãos? Mas já parou pra pensar nos diferentes tipos de laços manuais que existem ?

Os casais mais jovens, geralmente, andavam de mãos fortemente atadas, como se fosse pra não deixar que o outro se perdesse ou se fosse. Isso reflete a insegurança da nossa juventude. Ou a intensidade do que aquilo significa para nós, jovens tolos.

Os casais-não-tão-jovens-assim tinham quase sempre um homem com as mãos ao redor da mulher, como se fosse para guiá-la, para que ela soubesse aonde ir e como ir. Demonstrava segurança, carinho e certo cuidado para não deixar que sua amada seguisse para um lado estranho ao seu. Esses já demonstravam uma certa segurança ou, para fazer um trocadilho, um certo jogo de cintura.

Os casais de meia-idade ou idosos – surpreendam-se – faziam deste ritual uma coisa muito diferente. Eles não viviam agarrados como jovens de 20 anos ou como os casais adultos em seus 40 anos, onde o homem conduz a mulher. Eles eram guiados livremente um pelo outro. Andavam lado a lado, com uma conexão que superava o contato físico: eles se conheciam. Já não havia mais espaço para a insegurança ou para o medo. Sabiam que estavam ali para o outro e podiam confiar isso aos seus olhos. Comunicavam-se por palavras de carinho, por breves toques e por um olhar marcante que determinava o que os guiaria.

Engraçado supor, perceber… Ao ditado que diz algo sobre o tempo cuidar de tudo, agora dou certa razão. Nestas histórias de passantes, onde um sinal poderia revelar segredos que nem mesmo as palavras de um ou outro conheceriam, pude aperceber-me de sentidos antes desconhecidos. É o tempo que modifica as relações, o modo como elas se dão. E é ele quem faz nascer alguns sentimentos como a segurança, a confiança, a perda do medo.

E dando tempo ao tempo, aquela hora me passou breve, porém cheia de significados. Pra quem esperava apenas uma distração consegui obter muito mais que isso. É o tempo  que passa rápido pra quem vive e devagar pra quem pensa sobre ele.

Mas não se engane. Não há fórmula certa paras as criações do tempo em qualquer aspecto. Ele é leve… E nos leva. É assim que deve ser.

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