As redes sociais estão ajudando a piorar minha ansiedade


Abro minha caixa de entrada e dou de caras com o enunciado “compre mais curtidas” no assunto de vários e-mail. Não só hoje isso acontece, mas há meses que a “grande oferta” tem sido ganhar mais atenção no Instagram e em outras redes sociais. “Mostre como você é querido”, diz o corpo de texto numa forma de sedução irresistível. Afinal de contas, quem não quer ser querido?

A carência de uma geração inteira que utiliza o Instagram como termômetro pras relações sociais provoca a vontade de aceitar a proposta. Mesmo sabendo que as tais curtidas não são reais, são fabricadas por robôs e perfis árabes que não existem, as pessoas vão lá e compram. O afeto virou um número recebido através de notificações, além de moeda de troca: quanto mais querido você parece ser, melhor você é.

Se você não trabalha nesse universo digital, provavelmente você não faz ideia da razão dessa corrida pelos likes. Chamam de “influenciadores digitais” as pessoas que, de alguma maneira, influenciam as decisões dos seus seguidores. Likes, comentários, números de seguidores não são mais apenas detalhes de uma rede social, eles são ferramentas de negócio e poder. O que deveria simbolizar afeto ou interação entre o mundo real e o virtual agora simboliza uma falcatrua enorme pela vontade de ter atenção.

Mas não só os influenciadores digitais – ou digital influencers, como você preferir – que participam desse universo. Dia desses mesmo uma amiga me disse que apagava as fotos que não continham um mínimo de curtidas esperadas. Outro amigo me disse que ficava chateado quando não comentavam sobre como ele se vestia bem por conta do esforço que tinha em produzir fotos. Uma tia comentou que achava um absurdo que as amigas da igreja não conversassem com ela no Facebook. E eu não fico muito atrás, não. Mas como é mais fácil perceber-se a partir da vida do outro, não foi muito diferente. Olhei pros lados, ou melhor, pra tela nas mãos e vi o quanto eu estava chafurdando nessa mesma ideia.

Minha percepção de sucesso virou outra coisa de uns anos pra cá. Levei isso pra terapia e conversamos muito sobre como as redes sociais podem alterar a sua percepção de quem você é e como você se relaciona com o mundo. Antigamente, tudo o que me importava era ter uma página na internet para expressar o que sentia e falar com outras pessoas que se sentiam da mesma maneira. Hoje em dia, eu passo uma boa parte do meu dia checando se minhas publicações fizeram sucesso. Minha autoestima varia de acordo com os comentários sobre forma física, sobre o tipo de trabalho que tenho feito, sobre o número de venda dos meus livros, sobre quantas pessoas acompanham a minha vida diariamente, mas isso realmente importa no fim do dia? Digo, o que essas pessoas (e o que eu) vamos levar disso tudo? Sinceramente, números e atenção virtual podem alimentar o ego. Podem fazer com que você se sinta bem visto, bem quisto, bem percebido por outras pessoas. Mas quão profunda é essa relação com elas? Quão profunda é a relação do que você faz nas redes sociais com quem você é, com o rastro que você deixa na vida do outro, com quão bem você faz a alguém e vice-versa?

Tenho amigos que abdicaram das redes e, depois de uma conversa profunda durante um jantar, me fizeram um bem danado falando sobre a vida e suas crenças do que os gurus famosos que eu sigo por aí. Conheço gente que não posta mais de que três fotos por mês e é super feliz em seus trabalhos tradicionais, que mudam a vida de muita gente fazendo justiça, cozinhando, curando, atendendo em consultórios, limpando casas e por aí vai. Eu poderia passar um dia inteiro falando sobre como essas pessoas constroem relações mais profundas do que simples curtidas vindas dos Emirados.

Ser querido não é uma questão de likes, comentários ou quantos seguidores você tem. O valor de uma pessoa não está nisso, afinal de contas, isso pode ser comprado, maquiado, disfarçado de maneiras bem criativas e diferentes. Seu valor está em como você impacta a vida de quem te rodeia, seja aqui ou numa rede social qualquer.

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