[Você pode ler este texto ao som de Misghided Ghosts]
Se a felicidade se encontra em um relacionamento sério, talvez eu tenha me perdido, sozinho, na minha própria tranquilidade. Não que haja algum desdém da minha parte em relação às relações amorosas, mas eu prefiro me comprometer com a pessoa que paga as minhas contas, acorda às 6h da matina para pegar 2 ônibus até o trabalho e chega em casa tarde da noite, após uma cansativa aula na universidade.
Já estive melhor, pior nunca (não que a situação esteja ruim agora). Cansei de tentar entender os eternos porquês sem respostas. Desde gostar de alguém sem que eu fosse correspondido a fazer alguma coisa contra a minha vontade para satisfazer o desejo dos outros.
Não pretendo ficar para ‘’titio’’, acho que a minha vocação está muito além de ensaiar a piada do ‘’pavê ou pacomê’’ ou perguntar aos meus sobre os namoradinhos ou namoradinhas durante as festas de família. E acho que não tem a ver com realização profissional, mas receber um elogio, um aumento ou uma promoção pode ser tão excitante quanto uma foda sem vergonha no domingo à noite.
Substitui os encontros com discursos bonitos por algumas séries na Netflix, mensagens de bom dia, carregadas de elogios falsos, por uma playlist repleta de música boa no Spotify. E descobri que amor de verdade é o que o meu cachorro sente por mim, quando deixo ele subir na minha cama.
Essa quebra de protocolo assusta quem vê de fora. Namore, case-se, tenha filhos, dê netos aos seus pais, morra pagando contas, e os pecados por ter escolhido o óbvio sem se aventurar pelo diferente antes de dizer sim no altar.
Quero ler mais, estudar coisas que acho interessantes, plantar algumas árvores, assistir alguns clássicos do cinema e dar boas risadas com os meus amigos na mesa de um bar qualquer. Sem que meu entretenimento me cobre satisfações por ter esquecido o aniversário de namoro ou por não ter tirado o lixo na quarta-feira pela manhã. ‘’Perder’’ tempo ganhando experiências boas, me entende?
Vejo tanta gente vazia de si, querendo se preencher nos outros, numa tentativa frustrada de encaixar a tampa de uma panela na metade de uma laranja como se fosse dar certo. Jamais aceitaria estar com a consciência mais pesada do que a minha mochila por puro achismo das minhas próprias expectativas.
Eu prefiro comprar passagens ao invés de alianças. Há tantos lugares por aí, tanta vida pulsando nas veias que o coração acaba cumprindo com a sua função original de bombear o sangue. Não descarto a possibilidade de me apaixonar perdidamente por alguém, mas se isso acontecer certamente não será porque eu quis, esse é o tipo de coisa que a gente não escolhe, nem procura. Pois se tem uma coisa que eu aprendi, é que aqueles que procuram o amor nunca serão encontrados por ele.