[Você pode ler este texto ao som de Triste, louca ou má]
Ontem estreou a quarta temporada de Masterchef Brasil, e uma das últimas participantes da noite foi a Roberta, empresária e mãe de dois filhos gêmeos de 5 meses — que ela fez questão de anunciar que cria sozinha, já que o pai abandonou tudo 12 dias antes do nascimento dos bebês.
Mesmo antes de ela passar pra próxima fase, é bem triste saber que o que passou pela cabeça da maioria das pessoas não foi onde está o pai, mas sim “quem vai cuidar dessas crianças?” Porque não ter pai é normal né, agora mãe que trabalha e quer seguir o sonho é um grande problema. Nessa hora todo mundo se preocupa com os bebês, porque Deus me livre mulher que não fica em casa cuidando de criança.
E não é só das mães que os fiscais de vida estão atrás. Mulher gorda também não pode, porque e a saúde, como fica? Precisa se cuidar, cobrir o corpo direitinho porque ninguém quer ver gente fora do padrão toda exposta na rua. Mas muito magra também é feio, precisa engordar um pouco. Mulher sem maquiagem só pode ser desleixada, maquiada demais não é moça direita, e não quero nem entrar no tópico da altura da saia, porque vai chegar o segundo sol antes dos ~homens~ entrarem num consenso sobre qual a altura correta de um pedaço de pano.
Se está solteira tem que casar, se casou tem que ter filho, se teve um cadê o segundo? Se foca na carreira é ambiciosa demais, se só quer cuidar da família não tem um plano de vida. Se faz sexo com quem quer é prostituta (o que não teria nada de errado também), se não faz é santa demais.
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E o que dói mais é que não é só homem julgando não, tem muita mulher que reproduz esse mesmo discurso, que ainda não entendeu que o feminismo ta aí pra ajudar cada uma a ser livre pra ser o que quiser. Se quiser obedecer um homem pode ficar a vontade, desde que seja uma escolha.
Meu sonho pra esse Dia da Mulher — e qualquer outro dia no ano — é que a mulher possa ser deusa, louca ou feiticeira, e que ninguém tenha nada a ver com isso. Que todas sejam respeitadas independentemente do corpo, da pele, da altura, do peso ou da idade. Independentemente do gênero que nasceu, do salário ou do local onde mora.
Quem paga nossos boletos somos nós mesmas. Os nossos e o dos homens quando fazemos jornada dupla pra dar conta do emprego e de manter uma casa em ordem. Quando temos que nos vestir de certa maneira para sermos respeitadas no ambiente de trabalho, quando voltamos de táxi pra não andar sozinha naquela rua escura, quando deixamos de fazer qualquer coisa para não sermos agredidas, física ou emocionalmente, por um homem.
Hoje o Brasil e a América Latina entram numa greve geral de mulheres pra mostrar a diferença que faz se uma mulher para de produzir. E é pra causar desconforto mesmo, pra todo mundo entender que nós estamos sim cumprindo nossos deveres, mas os direitos não estão acompanhando no mesmo ritmo.
Chegou 2017 e parece que ainda precisamos provar que somos seres humanos e que devemos ter direitos IGUAIS, e que o feminismo continua sendo tão importante quanto lá no século XIX. As mulheres evoluíram muito e entenderam que ninguém pode nos dizer como devemos ser, mas os homens ainda insistem em tentar.
Estamos exaustas, mas não vamos parar.