Meu cupido é gari: só me traz lixo!


[Você pode ler este texto ao som de Meu Cupido é Gari]

Ando numa maré de azar tão grande, que minha própria sorte resolveu tirar férias vitalícias. Sempre acabo me afogando em mesas de bar, acompanhado de umas dezessete garrafas de cerveja e meia dúzia de amigos lastimando as desgraças do Tinder (sim, conseguiram mecanizar o amor, o afeto e o próprio sexo, apertando apenas em um coração verde que não pulsa). Papo vai, papo vem, a gente se pega, transa, troca meia dúzia de músicas e declarações via WhatsApp, e pronto, cada um pro seu lado.

Tem sido difícil topar com pessoas interessantes, dessas que gostam de ficar em casa assistindo filme e comendo porcarias, sem se preocupar com possíveis estrias, que curtem ouvir música boa e realmente param para nos escutar, enquanto olham em nossos olhos, tentando compreender o que escutam. Das últimas vezes que me dispus a conhecer alguém, me senti como se estivesse em uma entrevista de emprego (me dá arrepios na nuca, só de lembrar).

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Perco o interesse antes mesmo de conseguir entornar o segundo copo. Cara, tá foda. Parece que o que me torna atraente é o próprio reflexo de algo que não me reflete. Meu cupido deve estar de brincadeira, me tirando pra louco ou algo do tipo, impossível que eu tenha tanto carma assim para viver com apenas 20 e poucos anos (talvez, ele esteja me treinando para que eu me torne um cafajeste profissional). Devo ter sido algum filho da puta muito escroto em uma vida passada. O infeliz com certeza está tentando encaixar a tampa da panela com a metade de uma laranja como se isso fosse dar certo.

Trauma após trauma, por vezes me pego rindo sozinho de todas as furadas que me enfiei nestes últimos meses. Antes de escolher uma roupa, ensaio algumas desculpas para poder me livrar das ciladas de forma educada (nem o Bino teria tanta destreza),  e escolho um lugar barato, porque se eu precisar “arcar com as consequências” sozinho, certamente o farei garbosamente, enquanto agradeço mentalmente o preço do litrão de cerveja, de consciência levemente embriagada.

José, José e agora? Sem mais delongas, desacredito desse amor comprado. Nesse entusiasmo cantado aos quatro cantos de que tudo vai dar certo, porque não vai, pelo menos nunca foi assim pra mim.O cupido que vá se arranjar pra lá, bem longe do meu telefone e da minha paciência. De louco, já basta eu.

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