Não tenho certeza se era em um sábado de agosto ou numa segunda-feira de setembro que te vi pela primeira vez. Não sou bom nessas coisas de datas, você sabe. Mas sou bom em lembrar que você estava com sua cara emburrada de sempre, cara de quem não se abre facilidade com ninguém.
Só eu sei quantas vezes me peguei tentando decifrar seus sorrisos. Tentando entender porque você me olhava de rabo de olho quando eu que não estava te vendo e depois fingia que estava distraída, perdida no seu mundo.
Era aquela música do Kansas, Dust in the Wind, que tava tocando no seu iPod. Gostinho musical esquisito para uma menina de vinte e poucos anos vivendo em pleno 2016 como se fosse a personagem principal de um daqueles filmes antigos de cowboy. Sim, você poderia ser.
Você brilhava quando eu te olhava. Contava suas histórias malucas e prendia a minha atenção como ninguém. Confesso que deixei de ouvir totalmente tudo o que você dizia porque estava distraído demais pensando por onde você tinha se escondido. Não era possível que alguém que eu achava que só existia na minha imaginação estivesse ali na minha frente.
E como tudo em você, tudo em nós foi intenso. Do primeiro beijo – roubado em troca de um sorrisinho daqueles que pedem mais -, da primeira vez que te tive na minha cama, que descobri suas curvas, como em uma estrada sem fim que eu poderia explorar pro resto da vida, até as nossas saídas, nossas noites sem fim, nossos planos de viajar com minha moto pelo mundo afora.
Também foram intensas nossas brigas. Cada discussão por coisas idiotas, cada vez que você dizia que nunca mais queria me ver e eu prometia pra mim mesmo que aquela era a última vez que eu ia atrás de você. Você foi nuvem passageira e tufão ao mesmo tempo. Eu nunca consegui domar seus sentimentos porque você não é uma mulher que perde as rédeas da própria vida. Você sabe o que quer, a cada minuto, mesmo que não pareça. E vai embora e marca as vidas que te serviram de escudo algum dia.
Hoje você não está mais aqui, mas eu não vou te dizer que penso em você todos os dias, nos nossos beijos, no nosso amor, nas nossas pernas entrelaçadas, porque isso é tão óbvio – e você odeia obviedade. Mas você tem mesmo que ir viver tua vida por novas estradas e me deixar digerir a gente, digerir o que ainda tenho pela frente. Deixar digerir o que você deixou para trás. Deixar me reacostumar a viver por mim mesmo. Você me ensinou tanto. A gente viveu tanto. Nós éramos tanto que não consigo lembrar de você sem deixar escapar um sorriso. E amanhã, quem sabe, a gente se encontra de novo em um bar qualquer, de uma noite de agosto ou setembro, não sei.