“Um dia você vai me decepcionar, eu sei, mas por enquanto eu tô adorando conhecer você.” Não era nem o 3º dia e você já me presenteava com a sua sinceridade amarga. Não se afasta de mim não – você me pediu. No 23º dia. Mas você foi embora e por causa disso perdeu todo o direito de querer qualquer coisa. Das nossas conversas, guardo todos os nossos históricos. Todos. Não num HD, mentalmente mesmo. De tanto repassar nossas conversas quase consigo catalogá-las por índices. O dia que você me disse eu te amo pela primeira vez, página 2. O dia que você me disse que eu te fazia rir até doer o corpo todo, página 5. A primeira vez que você disse que queria ficar comigo para sempre. Nessa eu só fiz um desenho, de uma casinha na parte mais alta de um morro com algumas borboletas voando próximo do céu.
Você me disse uma vez que essa era a definição de felicidade para você, a minha é qualquer uma que você esteja feliz. A primeira vez que você disse que estava indo embora, página 12. Já que a gente nunca mais vai se falar – porque eu me certifiquei disso te bloqueando em todas as redes – gosto de repassar nossas conversas e reinventá-las na minha cabeça encenando cenários diferentes todas as vezes. Finais diferentes todas as vezes. Na página 29 tem aquela que você larga tudo vira músico e a gente sai numa tour pelo sul do País e você para na Pernambucanas para me comprar um casaco porque foi tão rápido que não deu tempo de fazer as malas.
Na página 45 a gente tem até filhos? Você sabe que eu nunca quis ser mãe, mas houve um momento em que todos os finais contigo já estavam sendo preenchidos, inclusive aqueles que a gente é um casal de girafas que se reencontra 10 anos depois no continente asiático e nunca mais larga os pescoços do outro. Lembra que no mesmo dia que te conheci você (página 1) me fez chorar 3 vezes? Não é que esquecer você foi a coisa mais difícil que eu já fiz, mas é que ainda não consegui lidar com todas as implicações que surgiram desde que você foi embora. Na falta de um ponto final, eu mesma pontuei sozinha. E agora sofro cada vez que você tenta interagir comigo, porque não responder é ir contra tudo que meu corpo quer. Melhor que falar contigo só continuar vivendo todos os finais que eu desenhei para gente. Melhor que falar contigo só começar a ler do início e parar antes de chegar no apogeu. Porque embora minha cabeça já tenha te esquecido, meu corpo sente sua falta todos os dias.
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