Eu não queria sentir a tua falta


[Você pode ler este texto ao som de Relicário]

Quando a saudade aperta, os olhos acabam refletindo a tua falta. É como olhar diretamente para o sol e abaixar a cabeça em seguida para conter lágrimas genéricas, que são isentas de qualquer tipo de culpa, sabe?

Talvez eu tenha sido a pessoa certa na hora errada e, quem sabe, nunca haverá um tempo certo para as minhas boas intenções na tua vida. A camiseta que deixou comigo ainda abriga expectativas com o teu perfume, que já está acostumado ao meu quarto, mas ainda inquieto a minha alma. O calendário se tornou um grande peso para a semana. Todos os dias têm a sensação de final de feriadão prologando. Me pego pensando nas tuas risadas, e sobre nunca ter sido o motivo de alguma delas.

Tu estás sempre lá, mesmo com toda a tua ausência. Seja no banho, no almoço, na universidade ou no bar com os meus amigos. Tu sempre estás lá, ou melhor, aqui dentro. Já invadisse todos os meus espaços e confesso que ainda não sou suficientemente covarde pra te colocar pra fora de outra forma que não seja através de uma boa dose de choro.

Queria poder voltar no tempo e te desconhecer, apagar os finais de semana e as fotos do WhatsApp. É como se eu estivesse sentado à beirada das minhas escolhas, sentindo a água gelada das consequências massageando os meus pés, com o vento soprando: “eu avisei que isso iria acontecer”.

Eu sei que se a gente não errar nunca vai aprender, e que insistir no erro é burrice. Talvez minha inocência ainda não me permita enxergar a nitidez do teu descaso, mas só por hoje eu não queria lembrar de ti, enquanto respiro. Queria poder chegar em casa e tomar um banho quente, daqueles que tiram a canseira do expediente, na esperança de que a água também te fizesse escorrer pelo ralo.

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