Nunca se sabe quando estão nos deixando. O partir de alguém sempre deixa um coração partido. Sem bilhete de despedida na porta da geladeira. Sem aviso prévio, simplesmente cortam a luz, a água, o gás e o sentimento. As pessoas costumam não se despedir de ninguém ao irem embora, para não chorarem, para não deixarem que escorram pelos olhos as expectativas que não se fizeram reais. Sabe, quando não há pergunta a ser respondida é porque talvez o silêncio seja a melhor resposta.
As janelas estão fechadas. Já não circula mais nada entre nós a não ser a indiferença que se acomodou na penumbra do teu olhar apático. Toda a minha vontade já não é suficiente para manter minhas mãos na tua cintura. Teu beijo se tornou tão frio quanto os invernos gaúchos. Falta sal, açúcar e calor. Falta tesão no teu gemido enquanto a gente trepa. A tua ausência já se faz presente nos meus jantares, nas idas ao cinema e nas mensagens de bom dia.
Tu já não és capaz de escutar o que digo, está distante. Mesmo quando tomas água na cozinha, com o rosto paralisado igual ao de um robô, não é tu quem está ali. É apenas a casca de alguma coisa que um dia teve conteúdo. Prometo que vou sair sem fazer barulho, encostar a porta do mesmo jeito que encostava tuas coxas nas minhas pra me fazer carinho, se eu assim precisar.
Os detalhes de outrora já se transformaram em empecilhos de uma vida corrida. Não há mais nada a se ganhar, só estamos adiando o inadiável, tentando tapar a chuva com a peneira e o sentimento com a rotina. Eu bem que gostaria de te fazer feliz, de concordar com a tua mãe sobre as tuas manias em um desses domingos quaisquer, eu gostaria que tu gostasses de mim da mesma forma. E é com os meus olhos cheios que peço ao teu coração vazio, a paz de ser o dono de algumas boas recordações. Mesmo que elas ainda não me reconheçam como alguém que que valha a pena se ter por perto nos momentos de aperto.
Já não posso ficar aqui dentro, sozinho escutando teu silêncio gritar pelas paredes. Não será diferente, tu não irás mudar, e não tentes me convencer, entre uma olhadela e outra no seu WhatsApp. A propósito, sou eu que estou me mudando, pouco a pouco, na mesma velocidade em que a gente emudece diante um do outro, já deixo toda a alegria que te trazia todos os dias, dentro do carro antes de pegar o elevador do teu prédio.
Estou tranquilo, porque entreguei o meu melhor. O que me havia de mais precioso, minhas horas livres, meus gostos, minha atenção e a minha estranha mania de tentar ser sincero e educado ao mesmo tempo. Espero que não queiras voltar, que vires a página e troque o disco, pois se eu já dancei, tu também já. Afinal, se arrependimento matasse mesmo, ninguém morria de saudade.