Já faz alguns dias que o meu silêncio tem me perguntado o que raios eu estou esperando de mim. Tenho corrido tanto pelos meus objetivos que acabei me esquecendo de abrir a janela da rotina para tomar um ar fresco no rosto. Tem faltado muito tempo, dinheiro e paciência. Fui obrigado a adiar alguns medos para morar sozinho, e criar coragem se tornou tão obrigatório quanto pagar as contas de energia elétrica, água e gás.
PAREM O ÔNIBUS DA GERAÇÃO Y AGORA!
Eu quero descer aqui! Não estou a fim de idealizar mais nada.
Podem ficar com o meu canudo de formatura, com a minha cadeira estofada de couro e o ar-condicionado da minha sala de trabalho. E se eu sou responsável por aquilo que cativo, talvez eu devesse comprar mais passagens aéreas ao invés de pagar os boletos da universidade.
Faça por merecer, para que você possa garantir um futuro estável, eles dizem. Mas, e o meu direito de escolher se eu quero, ou não, deixar a louça suja na pia? E se eu quiser desligar o telefone durante 24 horas para omitir as responsabilidades que me foram impostas? E quando eu vou aprender a surfar, tocar bateria, assistir a um show do Donavon Frankenreiter abraçado na minha mina, e viajar pelo Chile, como eu sempre quis?
Depois que a estabilidade estender os lençóis da minha cama para que o meu arrependimento possa deitar comigo aos 45 anos de idade.
Não há para onde fugir. Os dedos estão apontados para nossas caras como se fossem armas carregadas com encargos e, logo logo, eles irão nos convencer de que é melhor assim, que é melhor aceitar os padrões para que a vida possa seguir o fluxo comum dela. E se eu me apaixonar por alguém que não me quer, o problema está em mim, e não na pessoa, claro!
Queria não ter me afastado de alguns amigos, mas seria impossível mantê-los por perto enquanto eu me afastava de mim sem fazer nada. Era inviável não mudar as minhas prioridades na mesma velocidade em que mudei os livros da estante.
Enquanto a mochila estiver cheia de documentos e cadernos, e não de roupas, eu vou continuar tentando entender o porquê não podemos ser livres para viver as escolhas que realmente gostaríamos de ter feito, de sermos obrigados a ter obrigações. O fim já se deu, bem antes do começo, quando eles nos explicaram sobre viver da forma mais chata possível, sobrevivendo.
Sem mais delongas, a reflexão me fez perceber que sou um bastardo da criança que eu era, um projeto de homem que é velho o suficiente para saber que é jovem demais para aceitar as coisas que não concorda. Não sou filho de Deus e muito menos da puta. Sou qualquer coisa entre o céu e o inferno, que vaga pela terra em busca de equilíbrio para estar em paz com os pensamentos e o travesseiro, ao mesmo tempo. E talvez comprar a minha própria carta de alforria para poder encher os meus pulmões de ar, ao mesmo tempo em que esvazio a minha cabeça dos empecilhos.