[Você pode ler este texto ao som de Pra Declarar Minha Saudade]
Tenho em mim uma vontade enorme e momentânea de um abraço: do teu abraço. Tenho em mim uma saudade louca e sufocante: de nós. Tenho em mim um desejo gigantesco: do teu beijo; do teu lábio quente. Tenho em mim uma volúpia ardente: de teu corpo. Tenho em mim uma dor terrível: você. Tenho em mim, com tantas faltas, um vazio profundo. Mas depois de tantas quedas e tropeços, de tantas falhas – minhas, suas, nossas -, de tantas partidas, de tantos mergulhos no abismo do amor, que, tristemente, você não estava lá naquele precipício para me segurar, ou, quem sabe, voar comigo, depois de tudo isso, o que ficou em mim e de mim é o mais verdadeiro, porque sobrou apenas eu, sem você; eu puro, eu virgem; eu criança aprendendo a andar. Depois da queda, eu tive que me colar inteiro, juntar todos os cacos estilhaçados de uma morte bruta e gigantesca chamada fim do teu amor. Mas todos nós sabemos que há cacos que se reduzem ao pó e que uma peça quebrada, mesmo reconstruída, jamais será aquela peça inteira de novo, em sua totalidade. Eu, de tão verdadeiro, tive o que era falso; e portanto não tive nada enquanto eu te dava tudo. Andei pensando sobre o amor. Coisa pouco rentável, você não acha? Andei pensando que não tem nada mais doloroso e feliz; nada mais verdadeiro e essencial. É um tanto paradoxal, mas talvez seja dessa mistura de luz e trevas, de brigas e paz, que nasce o amor. E talvez por isso ainda te ame tanto, porque te mato e te (re)vivo na mesma proporção. Andei pensando mais: pensei sobre nós dois; ou sobre a falta de nós. Pensei no dia em que você estava no meu colo e, no outro, súbita e simplesmente, tinha arrumado todas as suas coisas e estava batendo a porta de casa. Eu fiquei pensando o que tinha acontecido para você precisar ir embora tão rápido que não me permitiu tentar, nem ao menos entender, nem ao menos segurar sua mão, te dar um abraço demorado, sentir pela última vez seus lábios que, agora, estariam frios, tão gélidos quanto seu coração ao me desferir golpes e palavras tão duras que somente um falso amor lançaria. O que me atormenta nesta noite cálida de domingo, dia do seu aniversário, olhando para o enorme teto branco que, aos poucos, começa a me engolir, é se seu amor é assim meio destrutivo, meio bélico, meio sanguinário. Ou me pergunto se, talvez, a insanidade tenha sido minha, que criei demais, que depositei em você um amor que não te cabia, que plantei em ti uma semente de uma árvore grandiosa em solo infértil, e reguei reguei reguei, e mesmo assim você não germinou. É que talvez, penso agora, eu tenha te amado demais, e você sequer me gostou, porque um amor de verdade não acaba assim como o seu acabou, subitamente fechando a porta e indo embora, deixando aquela, esta estação, com tantos encontros e despedidas, vazia. E se te escrevo é porque é o único presente que posso te dar hoje, e verdadeiramente eu: minha saudade, meu amor e minhas palavras.