O que faz você se sentir vivo? Porque vivo você está, mas nem sempre sente.
Estamos amortecidos. Cobertos por um manto de morte. Fomos devidamente ensinados a não sentir, nem medo, nem saudades, nem paixão, nem vontade, nem raiva, nem dor. Fomos treinados a mostrar sorriso quando sangra na alma. A deixar o corpo presente onde a alma não está. A fingir que não importa, a ouvir o coração disparado e fazer cara de paisagem. E de tanto fingir, começamos a encarnar o personagem. Mortos não sentem, mortos não vivem. E fomos concordando em deixar de acessar nossa fonte de vida, seguimos vagando.
Onde você se sente vivo? O que desperta você e lhe dá um sopro de vida? Diante do que você reconhece algo muito especial, que toca sinos dentro do peito? Quais são os pequenos prazeres que lhe conectam com a delícia de estar nessa vida? O que acende sua chama?
Vá lá, recolha os pedaços perdidos de sua alma em cada “não” que você se disse ou deixou que lhe impusessem. Ou a cada “sim” para o qual você queria ter dito um assertivo “não”. Descubra e veja o que está palpitando por baixo desse manto de morte. Desamorteça. Viva o impacto de estar aqui e agora. As coisas às vezes doem, mas até presenciar enormes belezas faz doer e isso é bom. O vento na pele, vale o arrepio. Você pode sentir raiva, isso é sinal de que algo precisa ser transformado. Pode sentir saudades, mesmo que o outro não sinta. Só é sinal de que você ainda sabe sentir, sabe amar, sabe se deixar alcançar. Sim, você pode sentir, o que quer que seja. Esse coração pulsando dentro do peito é um tambor, para lhe lembrar que existe música e poesia em estar vivo, que você tem gosto, temperatura, melodia, cheiro, sangue, desejos e possibilidades.
Ao invés de esperar que as coisas que me acendem cheguem até mim. Vou até elas. Sentar na grama e dizer para o sol que “sim, quero sentir”. Ouvir aquela música que faz vibrar as fibras sensíveis da alma e dizer “sim, eu me permito”. Deixar que um olhar me desnude e dizer “sim, eu estou aqui”.
Sinta e a vida ganha espaço.