5 livros para expandir a mente


Desde que me entendo por leitor, ouço as pessoas falarem de “O mundo de Sofia” – e que bom. Geralmente colocado nas prateleiras de “Infanto-juvenil”, o livro mais vendido do simpático norueguês Jostein Gaarder prende pela história de mistério da menina Sofia e as misteriosas cartas que recebem com perguntinhas capciosas do tipo “quem é você?” e vai além ao introduzir quem lê na história da filosofia ocidental – e, num exercício de metalinguagem e intertextualidade, transforma os personagens em personagens da personagem (!). Um bom livro de cabeceira, eu diria.

Aqui, vamos além de “O Mundo de Sofia” para recomendar quais livros do Gaarder, dentre uma extensa bibliografia, você pode colocar na sua lista. Assim você pode sair por aí tranquilo questionando as verdades impostas e enxergando o mundo e a si mesmo com mais abrangência:

O pássaro raro (1986)

O primeiro livro do autor, lançado em seu país natal em 86, é uma série de dez contos que podem soar como ficção científica em seu primeiro momento – principalmente porque o primeiro conto, o meio assustador meio impressionante “Scanner do Tempo”, anuncia um futuro distante onde qualquer um tem acesso à existência vivida de qualquer lugar do tempo e espaço. O livro abre com uma parábola – a do pássaro raro do título – que dá o tom: “(…) apenas de vez em quando, ele [o mundo] esfrega os olhos e desperta para a consciência de si mesmo. – Quem sou eu? – indaga o mundo. – De onde venho? Por alguns segundos, o pássaro raro pousou em nosso ombro.”

E não é que isso define a linha de pensamento do Gaarder e a maioria de seus livros por vir?

O dia do Curinga (1990)

Talvez eu seja meio suspeito para falar deste que é o meu favorito de toda a obra do Gaarder [/propaganda], mas é o seguinte: O dia do curinga recebe pontos por brincar com o recurso de “história dentro da história” que tanto vemos em “O mundo de Sofia”. De fato, muitos enxergam uma relação nestes livros, com o livro “Maya” engrossando a tríade. O livrinho encontrado pelo garoto Hans-Thomas, perseguido por um anãozinho enquanto está numa roadtrip em busca de sua mãe, fala da história de um mundo onde as pessoas são cartas. Sem capítulos – o autor divide o livro em cartas de baralho dentro de quatro naipes, mais o Curinga, para falar sobre: como começar a sua individual busca pelo conhecimento?

Se for arriscar ler a suposta trilogia em sua ordem, leia “O Mundo de Sofia”, depois o “Dia do Curinga” e depois (com a cabeça bem aberta) mergulhe em “Maya”.

A garota das laranjas (2003)

Ah, o amor! Você é Georg, um rapazote que recebe em mãos uma carta que seu pai escreveu para você, quando você tinha só cinco anos. Na carta, seu pai, o Jan, conta como foi que encontrou uma moça carregando uma sacola cheia de laranjas – e, meu deus, como se apaixonou por ela. E aí você tem essa bomba nas mãos: seu pai contando do seu caso de amor, aparentemente momentâneo, com uma estranha que ele encontrou uma vez, e sua família toda querendo conhecer o conteúdo daquilo que você está lendo. “A garota das laranjas” fala sobre a brevidade da vida, sobre os momentâneos momentos de felicidade que botam sentido em toda uma existência.

Esse, assim como “O mundo de Sofia”, virou filme – olha o trailer!

Através do espelho (1993)

Cecília Skotbu representa a principal tragédia de Gaarder – tragédia, o estilo literário nascido do teatro grego e que trata de uma… tragédia para falar de coisas da natureza humana. A menina Cecília tem uma doença terminal (esqueça “A culpa é das estrelas”, do John Green) e o livro se passa todo nas viagens que ela tem enquanto pensa na vida (e na morte) deitada em sua cama. Provavelmente o livro do autor para quem gosta de melancolia – e com um fechamento pra lá de lindo (não leia a última página primeiro!) – “Através do espelho” vai além da referência ao mundo de Alice ao tragar o leitor para uma curiosa amizade entre uma menina e um anjo.

É de chorar, sim.

A biblioteca mágica de Bibbi Bokken (1993)

Escrito a quatro mãos, com o escritor Klaus Hagerup, “A biblioteca mágica de Bibbi Bokken” é dividido em duas partes: a primeira é a transcrição do livro de cartas que os primos, a Berit e o Nils, compraram para se comunicar, no melhor estilo “eu escrevo e te mando, você responde e me manda de volta”. Tudo vai bem – até que você percebe (junto dos dois) que eles estão sendo perseguidos por uma senhorinha estranha, que quer, urgentemente, o livro de cartas para ela – para comê-lo. A história soa absurdamente real (assustadora em alguns pontos, eu diria), porque o narrador se afasta um pouco dos conceitos filosóficos para apostar apenas no desenrolar dos fatos. É a cereja do bolo que comprova que esse senhorzinho filósofo sabe mesmo contar histórias. Difícil é ler e não querer ser bibliotecário depois.

E você, já foi introduzido ao mundo da filosofia com os livros do Jostein Gaarder? Sorte a sua! Se não, ainda dá tempo de começar. Marca-páginas a postos!

Pelvini

 

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