Quando nos conhecemos, pequenas bolhas brancas se desvaneciam em um lago amarelo de álcool e futuros aldeídos. “Você fica de ressaca porque seu fígado transforma álcool em aldeídos. É isso que dá ressaca”, me ensinou rindo, dias depois. Um dia depois de um beijo apaixonado de despedida.
Alternava meu olhar entre o copo de cerveja e os buracos do toldo preto do bar. Espero-o voltar do banheiro, enquanto me recordo do cigarro dividido debaixo de um guarda-chuva xadrez. Chove. Um pequeno rio de água suja caminha obstinado, calçada abaixo, molhando meu tênis de sola fina. Senta-se novamente e elogia minhas pernas expostas em bermuda. Falamos de nossos corpos e ele admite seu interesse. “Sou complicado”, respondo. Levanta sua camisa e mostra seu peito côncavo. Diz que um dia já sentiu vergonha e que agora vestia aquela fina cicatriz branca sem mais problemas. Esquivo-me na certeza de que somos apenas momentos leves, nada mais. “Você é muito interessante, mas a execução é realmente complicada”, sentenciou.
Alguns dias depois contaria a minha mãe que o conhecera. “Um dia você ainda vai se apaixonar por ele”, previu e preveniu em sua sabedoria genitora.
Antes dos aldeídos, bebemos cervejas até quase cair. Ele ainda me levou de carro e me deixou na porta de casa. Morávamos muito perto um do outro em meio a pinheiros invisíveis. Aí aconteceu o beijo apaixonado. “Por que não?”, pensei ao inclinar-me, ficando aninhado em seu pescoço.
No dia seguinte, um filme no sofá, mãos bobas, um copo de coca para ele, um de água para mim. Antes disso, passou horas falando de momentos com ex-namorados. Falo pouco. É difícil competir com queijo brie e champanhe em uma jacuzzi de chácara no interior.
Deitamos e jogamos almofadas longe. Quero a sensação de amassos colegiais. Falo exatamente isso. Ele me beija impaciente. Peço para irmos à sua cama, o sofá me machuca. Ele tira a camisa. Não sinto vontade de fazer o mesmo. No escuro do cômodo, na dureza da cama, ele encerra as palavras com carícias ávidas. Dispo meu tronco em um passo complacente.
Começo a falar de coisas que não combinam com saliva e pele com pele. “Você fala pra caralho, né?”, fala gargalhando. Deito fulminado. “Você fala e eu perco a ereção.” Peço desculpas e peço banheiro. Fecho a porta e noto a banheira azul. Nada de queijo brie.
Saio e dividimos outro cigarro perto da vasta janela da sala. Dividimos também palavras iguais e que não mais faziam cócegas. “Acho melhor te levar, está ficando tarde”, finalmente vestiu a camisa e terminou sua coca-cola. Deixou-me novamente em casa. “Boa semana pra você. A gente se fala”, dou passos certos que não nos falaremos outra vez. Na cabeça, apenas a história dos aldeídos.