5 clássicos para você ler agora


Cinco clássicos para ler (agora que você não é obrigado)

Férias! Período de descanso geralmente utilizado para:

– acordar tarde;
– dar roles pela madrugada durante a semana;
– maratonar aquela série que você deve a si mesmo;
– pegar duas sessões seguidas de semana com o/a crush;
– ler;

Geralmente a gente pega os best-sellers para ler nas férias, John Green e outras maravilhidades; e, quando não, apostamos num daqueles tomos de trocentas páginas que preferem o apoio sossegado das pernas numa poltrona ao fundão do ônibus tremelicando. Me sinto muito vitorioso por ler a maior parte da Guerra dos Tronos no ônibus para o trabalho, porque aquilo. Pesava. Pra. Caramba.

(obrigado, senhor Rei, por favor não me mate)

No entanto, parte da nossa relutância em ler os clássicos da literatura brasileira são: a obrigatoriedade. Ter que ler Dom Casmurro porque o professor de português pediu  exigiu, pois “vai cair na prova, no vestibular, e você não terá futuro se não ler!!” estraga todo o prazer da coisa. Por isso, já que as férias estão aí e você provavelmente terá algum tempo livre, indicamos aqui alguns livros bem legais de escritores fantásticos, todos brasileiros – e um pouco de direcionamento no olhar que você precisa ter pra encontrar prazer lendo.

Sem pretensões de convencimento, criamos essa lista pra abrir o leque das suas possibilidades de leitura. Mas, se você sair desse post com um pouco mais de papo para discutir na mesa do bar com os amigos, já nos damos por satisfeitos! Vamos nessa?

A Hora da Estrela, de Clarice Lispector (1977)

Sabe aquele vazio que você sente do nada em algum lugar do peito? Então, ele existe e se chama Macabéa. Uma espécie de Amelie Poulain nordestina, Macabéa é a protagonista de A Hora da Estrela (que tem outros treze títulos em sua primeira página). Último livro da escritora que se naturalizou brasileira ainda criança (ela nasceu na Ucrânia e teve uma história pessoal pra lá de difícil), A Hora da Estrela é, na opinião deste que te escreve, o melhor da bibliografia. Cheio das indagações existenciais (“quem se indaga é incompleto”), você deve pegar este livro pra ler se estiver procurando respostas para as perguntas sem respostas… Dizem por aí que Clarice Lispector passou a vida à procura do sentido das coisas. A trajetória de Macabéa – avoada, datilógrafa (sim, era uma profissão antes da existência dos computadores!) e desentendida da vida – é de tirar o fôlego e te fazer perguntar a si mesmo: pensar é mesmo um ato? Sentir é mesmo um fato? Não se incomode se não entender a ideia geral à primeira leitura: é um livro pra digerir ao longo da vida.

Capitães da Areia, de Jorge Amado (1937)

Este aqui é necessário para os tempos que vive este ano – no meio da discussão do futuro da adolescência e juventude, Capitães da Areia propõe a reflexão: o que é ser uma criança moradora de rua na Salvador dos anos 30? Acompanha as aventuras de Pedro Bala, Volta Seca, Gato, entre outros, numa brincadeira complicada de ser adulto. Eles formam a gangue “Capitães da Areia”, que aterroriza a cidade com suas infrações. Sendo um livro que retrata um aspecto social muitas vezes rechaçado – a pobreza –, os Capitães da Areia pode te pegar de assalto e mexer com o que você entende por humanidade. Ah! O livro ganhou uma adaptação para o cinema bem bacana – olha o trailer.

O Cortiço, de Aluísio Azevedo (1890)

Quando a gente diz “literatura naturalista”, a gente tá falando de: a realidade sem firulas. “O Cortício” é bem isso: o retrato escrito de uma época (e feito naquela época) sem a preocupação de poetizá-la, romantiza-la. Sabe quando você se apaixona platonicamente por alguém e fica idealizando ela, criando qualidades e inventando possibilidades que não existem? É justamente o que O Cortiço não faz – vai direto na crueza das coisas. É legal perceber que, naquela época, quando o Rio de Janeiro de verdade sofria de verticalização das paisagens urbanas, o cortiço do título é apenas horizontal, sem andares – ou seja, não ascendeu junto do resto da cidade. Como os moradores do cortiço são todos sórdidos, você já sabe o que esperar. Acompanhando os atos ilícitos de João Romão e Jerônimo, O Cortiço ainda pode orgulhar-se de ter um relacionamento lésbico entre suas páginas (não vou contar de quem, só pra brincar com sua curiosidade). Por ser um livro mais antigo, eu recomendo que você baixe um aplicativo de celular para ir jogando as palavras mais difíceis ao longo da leitura. E dá pra baixar o livro de graça aqui.

Fazenda Modelo, de Chico Buarque (1974)

Novela curtinha escrita pelo Chico Buarque – e que remete ao clássico A Revolução dos Bichos, de George Orwell – numa interrupção de sua carreira musical. Chico demorou nove meses para botar a história da Fazenda Modelo no papel, a história da liderança de um boi (sim) chamado Juvenal e de como seu rebanho lida com os processos de transformação impostas por ele. Por que Juvenal valoriza o fim da reprodução natural e impõe a inseminação artificial? Onde fica a liberdade quando um só boi manda no destino de toda a pecuária? Parece bobagem misturada com ficção científica, mas coisa toda faz muito sentido quando pensamos no caráter político da obra do Chico Buarque – e o livro pode te ajudar a entender o processo de ditadura que passamos aqui no Brasil, de 64 até o fim dos anos oitenta. Chico Buarque também usou outros animais para falar de revolução num dos álbuns mais legais de sua carreira, na adaptação que fez, junto da Nara Leão e do MPB-4, de Os Saltimbancos.

Incidente em Antares, de Érico Veríssimo (1971)

ZUMBIS! Tá, os puristas podem me chamar de leviano, mas gosto de pensar que o Incidente em Antares – os mortos do cemitério sem de seus túmulos após a greve dos coveiros – tem bastante de The Returned (aquela série disponível na Netflix e inspirada na francesa Les Revenants). Realismo fantástico, os sete mortos que levantam da morte, saem pela cidade desenterrando histórias e falando mal de todo mundo. Críticas sociais à parte, os mortos saem pra vida apenas para dizer: “ou vocês dão um jeito nessa bagunça de greve e nos enterram ou a gente vai assombrar vocês pra sempre”. Sátira, comédia – e, sim, zumbis.

E você quais seus livros clássicos odiados e/ou favoritos? O que vai ler nas férias? Compartilha com a gente.

Pelvini

 

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