“Quatro dias em casa” é elevado a enésima potência por sua raridade anual, não é? No roteiro inventado da minha vida real, este pensamento é o start da primeira cena do meu musical pessoal. Pego o vinil-que-não-tenho do Itamar Assumpção e boto pra tocar “In the morning”, do Itamar Assumpção, só pra tragar vocês para tudo aquilo que é muito prosaico, e a câmera desceria pelo prédio, mostrando pela janela todas as pessoas cumprindo suas rotinas comuns de feriado. Ah, a beleza de um feriadão fazendo nada ou fazendo qualquer coisa despreocupada ou fingindo viver num musical qualquer e seguir as recomendações de musicais do Entre Todas As Coisas…
Se você procura lapadas na nuca, pode ir procurando outro texto, porque no que diz respeito ao cinema, o autor tem preferido o afago em detrimento dos tapas na cara. Por isso, se for ficar em casa, comece hoje a fazer os planos para um feriadão doce, musical e afetivo. Te ajudo:
God Help the Girl, de Stuart Murdoch (2014)
Posso ou não estar influenciado pelo anúncio do show de Belle & Sebastian no Popload Festival em Outubro. “God Help the Girl”, dirigido pelo líder da banda que todos deveriam amar, Stuart Murdoch, cumpre bonitinho a receita de musical-de-indie-pop, se é que existe alguma. É bastante arriscado assistir ao filme: o trio principal, formado por Emily Browning (linda), Olly Alexander (a perfeita idiossincrasia do indie pop) e Hannah Murray (você deve conhecê-la das primeiras temporadas de Skins) está tão entrosado que, se você não ficar encantado por eles, talvez tenha de arrumar as engrenagens do coração. O filme explora em seus 111 minutos o medo de crescer e de ficar sozinho, enquanto versa a formação de uma banda e da composição de suas músicas de maneira singela – e o ideal é que assim, singelamente, que devemos as questões tão complexas do amor.
Dá pra ouvir todo esse sentimento aqui!
Across the Universe, de Julie Taymor (2007)
A primeira coisa que você deve saber sobre “Across the Universe”: o filme é uma ode às músicas dos Beatles, ou seja: não tem como dar errado. Tão longo quanto o “God Help the Girl” – aqui, a tal ode busca cobrir todas as fases musicais dos Beatles –, “Across the Universe” alcança o sucesso ao contar uma história de amor com recriações musicais tão bacanas. Por que será que não pensaram nisso antes, hein? Servindo perfeitamente aos fãs de Beatles e sendo introdução para quem conhece alguma coisa aqui e ali (how dare you!), “Across the Universe” talvez seja o melhor desta lista para ver abraçadinho no frio, na tarde de sexta ou sábado.
Scott Pilgrim vs the world, de Edgar Wright (2010)
Duas coisas: a) se você detesta Michael Cera sendo Michael Cera num filme estrelando Michael Cera, pule esse parágrafo e b) concordo com a classificação de “Scott Pilgrim vs. The World” vista aqui no Cinema Blend: é um musical. O filme toca várias músicas das bandas fictícias de rock indie – “Black Sheep”, da Clash at Demonhead, é minha favorita –, todas produzidas pelo Nigel Godrich, apenas responsável por álbuns do Radiohead, do Beck e do Metric, entre outras. Mas o diretor Edgar Wright opta por usar cada faixa apenas para incrementar o contexto e dar maior dimensão para narrativa, fazendo das cenas de luta o principal desenvolvimento dos personagens e o desenrolar de cada situação. Só essa subversão de estilo já o torna obrigatório, mas o filme vai além: cria uma alegoria acertada sobre como lidar com o passado de alguém que você se relaciona. E, se você é gamer, tem ainda mais um motivo pra assistir!
Les Chansons D’amour, de Christopher Honoré (2007)
Deixei o melhor para o final. Se você ainda não viu este, sugiro que pare agora o que está fazendo e dê um jeito de vê-lo agora. O francês “Les Chansons D’amour” fala (e ri elegantemente) do relacionamento a três – ou seria um triângulo amoroso? – e das mais diversas formas do amar: como pode ser conturbado estar num relacionamento com alguém! Tendo Louis Garrel como protagonista – ou seria o amor livre a linha principal dessa produção? –, o filme serve para quebrar todos os preconceitos de que “todo musical é chato”: divide a narrativa em três partes, dando agilidade; quebra a história com finamentos abruptos, te envolvendo; e, através de movimentos habilidosos de câmera, discute corpo e sexualidade com respeito e sem frescura.
Se ainda duvida, ouça as músicas aqui!
Em tempo: se mesmo assim você não for convencido a ver essas delicinhas supracitadas, dizem que a melhor alternativa aos musicais seriam os filmes de terror… Mas isso é ideia para outra lista!