[Você pode ler este texto ao som de California King Bed]
Você precisa aprender a cozinhar um ovo. Você aprende. Você precisa superar alguém, você aprende. Você precisa saber o que dizer para as pessoas na hora certa, você diz, você aprende. Você quer tocar uma nota, uma canção, você aprende. Você precisa furar uma maldita prateleira você vai até a Leroy Merlin comprar furadeira e a madeira e aí você aprende. E você coloca tudo lá em cima mesmo, porque tudo são lembranças que não voltarão mais. Desde aquele elefante de pelúcia preso num chaveiro já estragado pelo tempo que foi presente de amigo oculto da 5ª série até aquela foto que está manchada porque as lágrimas foram exageradas no dia que ele foi embora
Minha cama ficou tão vazia depois que você foi embora.
E dói. Não porque algo te machuca. Não porque te falta alguma coisa. Não porque você errou com alguém. Você passa todos os dias por milhares de pessoas. Todas elas têm uma história. Talvez elas nem saibam. Algumas apenas passam pela vida sem se deixar levar por ela. São coadjuvantes de suas próprias histórias, estão presos em alguma cena sem fala, sem importância e sem roteiro.
Minha cama ficou tão vazia depois que você foi embora.
E você se apega a qualquer possibilidade de um momento feliz, não só por carência e desespero, mas também por medo do vazio. Medo de ter que lutar com aquilo de novo. Medo de ter que agüentá-lo, de ir para cama sozinha e nada. Você apaga a luz e ele fica ali com você, te sugando, te trazendo para perto dele. E você torce para que apareça alguém que dê um jeito nisso mas as portas estão fechadas e ninguém tem o endereço da sua casa e ainda que tivesse ninguém iria mesmo porque ninguém se importa com você.
E é tudo mentira, você sabe. As pessoas se importam. Essa é só uma história que sua cabeça gosta de inventar para tornar um momento mais miserável do que é tipo quando você tá no Twitter e finge que aconteceu algo triste porque deus me livre alguém descobrir que você estava feliz.
Mas as pessoas sim, são carentes. Você não. As pessoas precisam do seu carinho, do que você tem a dizer. Elas precisam que você passe por certas coisas para tornar a vida delas mais fácil. Elas precisam de você para se distrair da merda em que vivem.
E minha cama ficou tão vazia depois que você foi embora.
E você se questiona diariamente. E mesmo obtendo a resposta, você se questiona mais, porque muito mais importante que descobrir a resposta é o que você sente durante essa busca. E você cansa de fingir que se importa porque se importar é fácil demais. Todos os dias uma voz diz que um milagre vai acontecer. Todos os dias você torce para abrir a porta, tropeçar em alguém, ouvir uma música diferente ou começar a escrever um livro.
Mas milagres não acontecem.
Todos os dias eu passo o mesmo batom que você gosta na esperança de que ele magicamente traga você de volta para mim. Como se o fato de desenhar a minha boca pudesse reviver todos os momentos que tivemos juntos nos últimos anos. Como se no instante em que eu tirasse ele da bolsa você me mandasse uma foto da sua cama dizendo o quão vazia ela fica quando eu não estou deitada nela.
E eu nem gosto mais de você, mas gosto menos ainda da ideia de gostar de mim. Por isso eu insisto em ilusões e falsas histórias, ou qualquer artifício para preencher esse espaço enquanto arranca uma piada com alguma risada forçada. Porque lidar com a realidade é ter que lidar com a ideia de que você foi embora.
Todos os dias uma voz diz que um milagre vai acontecer mas milagres não acontecem.
E minha cama ficou tão grande desde que você foi embora.
É a dor que se tem por não ter nada a perder.
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