Essa não é uma história de amor impossível, platônico ou que acabou. Ninguém aguenta mais ler sobre isso. A verdade é que ninguém escreve sobre amores reais. A gente vive nesse mundo em que todo mundo está no fundo do poço. Todo mundo está sofrendo por alguém, chorando por alguém, esperando por alguém… Todo mundo está disponível e quem não está já se prepara pra quando ficar.
Eu tenho uma lista de músicas pra ouvir quando meu namoro acabar. Dessas músicas que doem na alma da gente e que fazem a gente encostar a cabeça na janela do ônibus, ver a chuva caindo lá fora e se imaginar dentro de um clipe melancólico e sem final feliz.
Eu tenho uma lista de autores pra ler quando eu ficar sozinho. Já tenho uma série de desculpas pra dar quando me convidarem pra sair, mas eu quiser ficar em casa, assistindo comédias românticas e comendo porcaria, porque eu fui largado, oras, e eu posso e devo e vou curtir minha fossa.
Já sei quantos quilos eu preciso emagrecer pra “voltar ao mercado de relacionamentos” quando o meu namoro atual terminar e levar com ele meus sonhos, meus planos e o corpo que eu tinha há um ano e meio atrás, quando eu precisava estar apresentável aos olhos das pessoas.
Isso tudo porque, de alguma forma, eu já estou me preparando pra voltar ao mundo onde todo mundo está sofrendo por alguém, chorando por alguém, esperando por alguém… E aí voltamos aos amores impossíveis, platônicos ou que acabaram, né? Esses que o mundo reproduz aos montes por aí.
Felicidade não vende e não inspira.
Todo mundo já ouviu em algum momento que nem sequer devemos gritar nossa felicidade por aí, pois atrai negatividade. Balela. As pessoas só não estão interessadas em saber que você está bem. Ninguém te manda uma mensagem às 3 da manhã dizendo “Oi, fiquei sabendo que sua vida está ótima! Que bom, fico feliz por você. Era só isso“, mas quantas vezes nós recebemos um “poxa, fiquei sabendo que deu tudo errado” ou “que você não conseguiu o emprego que queria” ou “que sua namorada te deixou”, “que você bateu o carro”, “que sua vida está de cabeça pra baixo”, “que sua avó faleceu”, “que você tem câncer. Vai dar tudo certo”.
Isso acontece porque a felicidade é plural, mas tristeza é singular.
As pessoas se identificam com a dor, pois já passaram por isso e foi devastador. Cada um tem a sua forma de sofrer. E o mundo está cheio de pessoas que sofrem e escrevem sobre isso, compõem sobre isso, vendem isso.
Nada animador.
Mas esse texto é sobre relacionamentos reais, certo? Sobre os milhares de relacionamentos que existem no mundo afora, nesse momento, mas que são completamente esquecidos pelos produtores musicais, pelos diretores de cinema, pelos escritores e pela indústria alimentícia. Sim. Os pratos pra dois, na verdade alimentam um só. Se um casal pede um prato pra dois, vai ter que pedir uma coisinha a mais depois.
O mundo não está preparado para o amor.
O nosso problema é querer ir ao mercado e encontrar nas prateleiras amores de filme. Prontos pra consumo. Misture programas a dois, tardes ensolaradas, grandes sorrisos e brigas homéricas, que terminam num lindo sexo de reconciliação olhando nos olhos. Está pronto, serve um prato pra dois. Risos. Qual dos dois vai ter que pedir uma coisinha a mais depois?
Nós somos egoístas dentro do nosso próprio ideal de relacionamento.
Todo mundo quer um amor de filme, certo? Desses dramáticos, que fazem a audiência chorar e torcer pros dois ficarem juntos no final. Mas eu tenho o meu filme preferido e você tem o seu. E se no meu filme preferido a mocinha se apaixona pelo mocinho, mas no seu, o vilão é quem merecia arrematar o coração dela?
Não existe uma fórmula. A gente ouve muito isso. Mas eu acho que a fórmula existe na sua inexistência. Quando você para de procurar uma receita, as coisas acontecem como têm que acontecer e aí você é a pessoa mais feliz do mundo, porque você encontrou alguém que não quer as mesmas coisas que você, mas que está completamente disposto a não soltar a sua mão enquanto vocês buscam, juntos, um caminho que leve os dois o mais longe possível. É quando você encontra na barriga do outro a forma exata do encaixe das suas costas, formando a conchinha mais matematicamente perfeita do mundo.
O amor de verdade não é aquele que acontece durante o filme, mas sim aquele que acontece durante os intervalos ou quando sobem os créditos. Quando você não sabe exatamente o que está acontecendo, mas faz você querer descobrir ou inventar do seu próprio jeito.
Os amores reais estão em extinção.
Nós nos acostumamos a pensar na cor do amor, quando na verdade ele é em preto e branco, pintado frame a frame, um dia de cada vez. Não está naquele jantar que você fez e postou no Instagram porque estava lindo, está no miojo feito rapidinho, enquanto ele estava no banho, porque ele precisa acordar cedo pra trabalhar amanhã. Está na briga na boate, porque alguém te olhou com olhos de desejo, e ele se ofendeu, pois ninguém deveria ter o direito de olhar pra você com o mesmo olhar lascivo que ele te lança quando você sai do banho só de toalha. O amor está no durante, não no depois. Escreva sobre o seu amor enquanto ele ainda existe, não deixe pra falar dele quando acabar. Demonstre sua felicidade sim, pois o mundo precisa de um pouquinho de esperança pra continuar existindo. Mande agora uma mensagem pra sua namorada ou pro seu namorado ou pra pessoa que você conheceu nesse fim de semana. Pode ser apenas um sorrisinho. Ponto e vírgula e um parênteses. 😉
Não espere o seu príncipe chegar num cavalo branco e te beijar pra te salvar da torre mais alta do castelo. E principalmente, não espere que as suas tranças sejam longas o suficiente pra que ele suba por elas. Ele pode precisar de uma escada. Tudo bem. Amores reais têm dessas coisas mesmo.
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