Como as mulheres de Hollywood estão ajudando a mudar o mundo


Joan Rivers reinventou o tapete vermelho ao perguntar para celebridades “O que você está vestindo?” vinte anos atrás. Desde então, um dos momentos mais aguardados de todas as cerimônias são as entrevistas e os looks das pessoas que estão chegando. Até ai, ok. Quando você trabalha numa indústria como Hollywood sabe que sua imagem é o seu produto, mas e quando a aparência é tudo que importa?

Cate Blanchett lacrando o SAG Awards

No ano passado, Cate Blanchett se revoltou com um câmera do E! que filmava o corpo dela durante uma entrevista e nos presenteou com essa gif maravilhosa

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Mesmo vencedora do Oscar por Blue Valentine e participado de filmes como Senhor dos Anéis, Benjamin Button e Babel, tudo que a atriz teve foi um close da câmera para mostrar a sua beleza. Uma semana antes, no Globo de Ouro, a mesma repórter passou por uma situação complicada com a Elisabeth Moss no manicam (uma espécie de caixinha com uma câmera dentro que dá zoom nas mãos das mulheres para mostrar as unhas). Moss, que interpreta Peggy em Mad Men, uma mulher ambiciosa no ramo da publicidade nos anos 60, cercada de homens machistas, num ambiente machista, resolveu fazer isso ao vivo…

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OBRIGADA <3

Imagina a seguinte situação: você é protagonista de um filme, passa meses gravando e se dedicando a ele. Quando finalmente você vai a uma cerimônia, as pessoas perguntam se você pode dar uma voltinha em frente a câmera. Ao mesmo tempo que o seu colega de trabalho, que também está no filme, recebe perguntas do tipo: como foi interpretar o personagem? O que você mais gostou do filme? Chega, né?

No fim do ano passado, Jennifer Garner durante o seu discurso em “Women in Hollywood” também falou sobre machismo. Casada com o Ben Affleck, um dia eles foram em uma premiação e quando voltaram para casa compararam quais perguntas foram feitas para cada um deles. Enquanto Garner respondeu diversas vezes como faz para conciliar trabalho e família, seu marido nem ao mesmo recebeu essa pergunta. E olha só que loucura: eles vivem na MESMA família. Ou seja, enquanto Garner, que é mãe de 3 filhos, precisa se virar nos 30 para conciliar tudo, o marido só precisa trabalhar. Tanto faz se ele cria os filhos, isso é trabalho só da mulher, né gente?

RIP MANI CAM

No SAG Awards desse ano, Anniston e Juliane Moore se recusaram a mostrar as mãos. Em uma coluna do New York Times, o mani cam foi criticado por ser mais uma das coisas que as mulheres precisam se submeter nas premiações e, surpreendentemente, ele não foi usado no Oscar. Foram 3 anos de existência e aqui tem os melhores momentos (desde o início até o momento que as mulheres começaram a se recusar)  http://www.buzzfeed.com/bricesander/in-loving-memory-of-es-manicam?utm_term=.mreZeLmWl. Apesar da especulação, não se sabe ao certo se ele voltará nas premiações, mas no twitter a mensagem que ficou foi “adeus, Mani Cam, sua falta não será sentida” dita por muitas mulheres.

Emma Stone e “Isso é tudo que importa”

Emma Stone, que concorreu ao Oscar por Birdman, estava em um evento de nomeados a premiação, quando deu a melhor resposta de todas para um repórter que gritou “Você está linda como sempre” “Ah, obrigada, isso é tudo que importa”. No mesmo evento, um outro repórter perguntou se ela ia fazer algum tratamento no Spa para se preparar para o Oscar. Ela respondeu que não teria tempo para o spa uma vez que estava interpretando Sally Bowles num musical da Broadway.

Ainda no mesmo evento, ao perguntar para Reese Witherspoon (indicada melhor atriz em Wild) qual era o segredo para se preparar para o Oscar, ela respondeu ironicamente “Lutando com Sofia Vergara”, já que as duas estavam gravando um filme.

Ask Her More e o Oscar

Essa campanha, criada por uma iniciativa chamada The Representative Project, tem por objetivo mudar a conversa sobre as mulheres. “Uma mulher no tapete vermelho, independente de seu talento, é muito mais provável receber perguntas sobre sua aparência do que um homem, independente do seu talento. Não é hora de nós perguntarmos mais?”

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SIM, É SIM 

 

A mesma Reese Whiterspoon foi uma das responsáveis por fazer o projeto #Askhermore virar trending topic durante a premiação com apenas uma mensagem no Twitter e no Instagram:

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Ela também falou do movimento na premiação “Esse é um movimento para dizer que nós somos mais do que nossos vestidos. São 44 nomeadas esse ano e nós estamos felizes de estarmos aqui e falarmos sobre o trabalho que fizemos. É difícil ser uma mulher em Hollywood ou em qualquer indústria” 

A Amy Poehler (Park and Recreations), usou a sua conta no Twitter durante o Globo de Ouro para falar sobre #AskHerMore.

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Durante esses dois últimos meses ela continuou falando sobre o assunto, estimulando as pessoas a mandarem ideias de perguntas para as mulheres. Ela usa o Twitter para falar sobre seu projeto Smart Girls e mandar mensagens positivas para as mulheres de todo o mundo. Durante toda a semana ela retuitou diversas dessas perguntas, e durante todo o Oscar fez referência a campanha e elogiou diversos discursos como o da Patricia Arquette.

 Lena Dunham fez essa sequência de tweets:

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E a nossa eterna Mione (gente, nunca vou superar Harry Potter ter acabado) retuitando isso:

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“É hora de termos salários iguais e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos da América.” (Patrícia Arquette)

Aliás, o que foi esse discurso? O que é essa mulher? Meryl Streep, esse ser humano maravilhoso que fez o favor de nos deixar habitar o mesmo planeta que ela, levantou da cadeira e representou todas as pessoas que assistiam. O gesto que definiu o “Oscar dos textões”, como ficou conhecido aqui. O Oscar das minorias, da igualdade, do respeito. Tem muita coisa errada sim, mas que incrível ver tantas pessoas aproveitando o espaço para passar uma mensagem positiva e tentar ajudar as pessoas ao redor do mundo.

Sim, Patrícia Arquette, está na hora de lutarmos por direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos (e em todos os países) 

Apesar de todos esses acontecimentos, até então nenhum evento tinha trazido tanta repercussão para esse assunto quanto na noite do Oscar. Não é por menos, já que em 2 horas nos sentimos num grande textão do Facebook, onde muitas discussões foram levantadas: racismo, machismo, preconceito com imigrantes, dificuldade de lidar com doenças (alzheimer), suicídio e sobre se aceitar (“Stay weird, stay different). Tantas bandeiras foram levantadas, e no dia seguinte as notícias falavam apenas sobre isso. Muito mais do que os vencedores, falaram sobre seus discursos. Muito mais do que sobre os vestidos, falaram sobre as lutas das mulheres.

Eu acho é POUCO. Patrícia Arquette tem uma irmã transexual e deu uma entrevista recente falando sobre a importância de respeitar, da dificuldade e o quanto a mídia está sendo cruel no caso do Bruce Jenner (padrasto das Kardashians que, supostamente, está querendo mudar de sexo). Tem que discutir mesmo, tem que tocar na ferida, tem que falar sobre o assunto, tem que dividir histórias. É disso que o mundo precisa, e é só assim que a gente começa a mudar as coisas. 

E não é só com discurso que elas estão fazendo isso. Emma Watson é embaixadora da Onu Mulheres, Amy Poehler tem o projeto Smart Girls, e cada vez mais mulheres estão perdendo o medo de se declararem feministas e procurando formas de contribuir um cadim com isso tudo.

A parte mais legal de Ask Her More é que a ideia não é acabar com as perguntas. Reese mesmo admite ser apaixonada pelo mundo fashion, é estrela de várias campanhas publicitárias de maquiagem e moda, e inclusive tuitou antes da cerimônia uma foto do seu vestido e das jóias utilizadas. O problema não é ser vaidosa, o problema não é falar de vestidos nem mostrar a sua maquiagem.

O problema é quando isso é a única coisa que dizem sobre você.

mabe

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