Os nossos colunistas Lucas Baranyi e Carolina Goulart dão sua visão sobre o assunto do momento: a bunda da atriz Paolla Oliveira. Neste artigo, numa edição especial, você acompanha primeiro a visão de Carolina Goulart e logo em seguida a visão de Lucas Baranyi.
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(Por Carolina Goulart)
Tem gente que não sabia quem era Paolla ou não lembrava dela em outros papéis. Agora todo mundo está íntimo dela e da bunda.A bunda foi parar nos trending topics do Twitter e não é pra menos (tá de parabéns, amiga). Até a pesquisa do Google sobre a moça está mais complexa. É difícil desviar das notícias e textos e fotos e vídeos sobre o bumbum para achar informações sobre a carreira da atriz. Acho que nem vale a pena entrar no mérito de atuação, porque vocês estão interessados mesmo é na poupança da guria.
Foi um tapa na cara ver que a mocinha, as vezes até chamada de “sem sal” pode ser um mulherão, não é? Tem gente chocada com isso até agora. Amigos meus se pronunciando em todos os cantos nas redes sociais como se tivessem visto terra depois de meses a deriva no mar. Não entendi o motivo da surpresa! Eu sempre achei a Paolla uma mulher linda e a chamava carinhosamente de “escrota de linda”, porque né? Ela é mesmo um abuso de beleza. Mas confesso que a carinha angelical não nos faz pensar em uma bunda daquelas. A gente ainda tem essa ideia errada de “mulher bonita” diferente de “mulher gostosa” e coisa e tal.
Muita gente não lembra da Paolla e dos seus atributos, mas eu lembro muito bem dela esbanjando sensualidade na série “Afinal, o que querem as mulheres?”. Ok, não tem bunda, mas isso é muito sensual! Aliás, coisa que vocês precisam entender é que sensualidade não tem a ver com mostrar a bunda, mas isso é papo pra outro dia.
O que me espanta é a reação do público. Gente, vocês nunca viram bunda mesmo ou é porque é a Paolla? Entendo a reação de vocês, porque ninguém esperava que a mulher antes insossa se mostrasse tão sexy, mas acho que essa imagem tem muito a ver com o personagem que já é sensual e provocante por si só. A imagem que a gente tem de um ator em uma cena, reflete a imagem que captamos do personagem interpretado. Ou seja, se a Paloma (personagem da atriz na novela “Amor a Vida) mostrasse a bunda, provavelmente não causaria a mesma reação.
Só espero que vocês entendam que ter uma bunda bonita não a diminui como atriz. A gente pode ser muito mais que um rostinho bonito ou uma bunda maravilhosa. Ela pode ostentar um corpo lindo e ainda sim ter muitas outras qualidades. Tomara que a gente perceba que ela é muito mais do que isso e principalmente, que ela não fique estigmatizada para sempre como “Paolla, aquela linda de cara e boa de bunda”.
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(Por Lucas Baranyi)
Desde que a puberdade bateu à minha porta, descobri que gosto de bundas. Desconheço as raízes disso – poderíamos passar todo esse texto discutindo minha adolescência, a banheira do Gugu e a chegada da banda larga em casa, mas esse não é o ponto.
O ponto é que, assim como eu, muita gente também gosta de bundas. E, nos últimos dias, a bunda da Paolla Oliveira foi o último grande acontecimento da internet brasileira.
Era bunda da Paolla Oliveira em memes, bunda da Paolla Oliveira em portais de notícia, bunda da Paolla Oliveira no whatsapp, bunda da Paolla Oliveira no twitter e bunda da Paolla Oliveira como discussão principal nas mesas de jantar de família.
Numa releitura da icônica canção de Dorival Caymmi, nos juntamos para perguntar: o que é que a bunda da Paolla tem?
Na real, não tem nada demais. Quer dizer, tem: é uma bunda linda. Mas é só isso. O problema de todo esse burburinho vai muito além de elogiar a atriz: esbarra em uma objetificação que a princípio parece pequena, mas vai muito além de piadas e notícias caça-clique.
Tomemos como exemplo – e dadas as devidas proporções – o ator Matthew McConaughey. Durante toda a década de 2000 o texano executou papéis rasos e simplistas no cinema norte-americano. Entre tirar a camisa em algumas dezenas de cenas e arrancar suspiros femininos, o loiro acumulava milhões de dólares. A partir de 2011, porém, Matthew partiu para papéis mais sérios – que, apesar de tudo, não o eximiam de exibir um corpo definidíssimo, como no filme Magic Mike (2012), em que McConaughey interpreta um stripper.
Essa retomada de papéis levou o americano a ser imediatamente reconhecido como um ator sério, e esse reconhecimento lhe rendeu papéis ainda melhores – e, consequentemente, um Oscar.
Antes de você reclamar, leitor, se acalme: não estou comparando o talento de Matthew com a capacidade de atuação da nossa conterrânea. Essa é apenas a maneira mais óbvia de mostrar que, na sociedade, julgamos homens e mulheres com pesos e medidas diferentes.
O papel de Paolla Oliveira em Felizes Para Sempre é o mais ousado de sua carreira: ela interpreta uma prostituta de luxo que é casada com outra mulher. É visível que esse papel exige mais da atriz, acostumada até então a interpretar personagens mais fáceis e óbvios. Ainda assim, a audiência do programa só subiu graças a sua retaguarda.
Esse não é um pedido para que deixemos de apreciar corpos bonitos – homens e mulheres fazem isso o dia inteiro. O problema está em repetir apenas isso. Ignora-se qualquer outra característica da atriz em detrimento de algo simples: uma bunda.
Uma baita bunda? Claro. Mas não deixa de ser só uma bunda.