Tudo novo de novo


Estou relendo a última folha do diário. Depois de 218 dias registrando lembranças e desejos, colando ingressos dos meus shows favoritos, deixando as flores secarem nas formas mais estranhas… ele acabou.

Todas as fotos tiradas com a velha Polaroid estão presas com pequenos clips coloridos. Alguns cheiros se misturam por causa dos papéis de balas e bombons. Um deles tem um nó que ainda não consegui desfazer (e vai me valer um beijo).

Marquei apenas duas páginas com etiquetas que brilham no escuro, e foi pra me lembrar como esses dois dias foram importantes. Uma partida e uma chegada. Uma das folhas está enrugada, e é do choro que caiu enquanto eu escrevia.

Algumas fotos recortadas de revistas já não fazem mais sentido, mas ainda ilustram textos curtos, de dias tediosos. Um pouco de colorido sempre ajuda a fazer as coisas parecerem mais especiais, afinal.

Agora é hora de começar de novo, no meu novo ciclo. Dessa vez comprei um caderno com capa antiga, folhas sem pauta e meio amareladas. Achei vintage. Me esqueci de olhar quantas páginas ele tem, mas tenho certeza que serão suficientes para tudo que penso nos meus novos dias.

Agora registro os novos amigos, um gato, a correria, e todas as vezes que me perdi. Registro os novos pratos que comi, aquele dia com todo mundo em casa comendo brigadeiro quente, e uma tarde desejando antiguidades. Um café da manhã com panquecas está nas estrelinhas do primeiro recado que alguém deixou nas minhas páginas.

Sei que virão mais mudanças, novos lugares e outras dessas festas que acabam com o sol nascendo. Alguns segredos, algumas revelações, e uma viagem ao passado já tem páginas reservadas. Novos e velhos amigos reunidos num brinde com vinho quente numa noite gelada vão posar para a primeira foto, mas eles ainda não sabem disso.

Bom, agora sabem.

Carol Figueiredo

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