[Você pode ler o texto ao som de Too Much]
Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que adoram se misturar às luzes e sons na pista de dança depois da tequila. Seus amigos acertaram em cheio sobre eu me esbaldar nas boates. Sim, sim, também é muita verdade que eu cumprimento os meus amigos gays com selinho e flerto com o barman para ganhar mais chopes do que o dinheiro permite. E eles também acertaram quando te contaram que você não foi o meu primeiro beijo naquele dia em que nos conhecemos, apesar do equívoco em relação aos números. Não foram três ou quatro caras. Foram dois, e você foi o grande achado no fim da noite depois de eu ter largado um tapado que usava alargador.
Tabuada, aliás, parece ser o maior problema do implacável tribunal do Clube do Bolinha. Diferente do que eles testemunharam no julgamento sem ré presente, eu não dei pra todo o bairro. Veja só: eles moram por aqui, e eu nunca dei para nenhum deles, por exemplo. Números podem até ser um problema na vida dos seus amigos, mas eles são bons com exagero. Como eles são do tipo que multiplica por três o número de caras que a gente conta que já foi para cama, pode avisar na próxima reuniãozinha que foram dois. Nem vai precisar de calculadora.
O que acontece é que eu sou livre, alegre e, principalmente, eu sou solteira. Eu gosto de me curtir, me maquiar, me passar cremes e me sentir bonita – toda mulher gosta disso. Amo dançar. Amo tanto que penso que fui bailarina em outra vida. Adoro beber chope com os amigos compartilhando problemas, conselhos e risadas. Gosto de beijar na boca. E, pra ser mais sincera, só não faço mais sexo porque até uma mente aberta como a minha se incomoda com essa falação despropositada de gente como seus amigos. Infelizmente essas coisas ainda machucam um pouco.
Eles não sabem, mas eu chorei trancada no quarto depois que você me falou que estava na dúvida sobre nós dois após conversar com a sua turma. Que tinha amado a nossa noite e me achava especial demais para não receber uma explicação sobre o seu sumiço repentino. Eles também não te contaram, mas eu sou boboca por natureza. Sou um moleque de saia. E por trás de todo o rímel e as tatuagens, existe uma menina que gosta de jujuba, pijama da Disney e músicas da Sandy. E quando estou em um relacionamento sério, eu levo mesmo a sério com toda a entrega, fidelidade, paixão e carinho. E eles também não falaram (porque eles nem poderiam saber), mas as minhas dancinhas vão muito além das pistas das boates. Só depois de meia hora de baixo astral, eu percebi o quanto era bobo isso tudo, me dei dois tapas na cara, liguei o som bem alto, e me lembrei daquela máxima bobinha de que a gente nunca perde o que nunca teve. Apaguei todas as mensagens, na esperança de apagar da memória.
Mas você não vai conhecer as minhas dancinhas, ou o meu pijama da Minnie, ou dividir o mesmo pacote de jujubas enquanto assistirmos a um filme ruim de terror qualquer. Também não vai rolar de rir junto depois que a gente conseguir doses extras na boate, por causa do meu flerte todo atrapalhado com os garçons. Deve ser difícil ficar dividido entre a atração inevitável que aconteceu entre a gente e os julgamentos cruéis dos seus amigos. Mas tudo isso aqui não é para fazer você me escolher. É apenas para dizer que eles não te contaram que sou dessas mulheres que não sabem lidar com meio termo. Não gosto de indecisões, de enrolas, de historinhas, de disse-que-me-disse. Então vá com a sua turma. E, enquanto eles distribuem atestados de vagabunda festas afora, eu vou seguir com o meu rebolado, o meu riso fácil e a esperança de que a vida sempre guarda o melhor pra gente.
Sabe o que eles também não te contaram? O homem tem que ser muito homem para ter uma mulher como eu.