[Você pode ler este texto ao som de Can’t Let Go]
Um dia você vai virar pra ele e vai dizer que queria mesmo, queria com todas as suas forças, que pensava que ia fazer acontecer como num passe de mágica se desejasse de verdade e por isso fechava os olhos enquanto o beijava, pra ver se atendiam o seu pedido de olhos cerrados. Você vai dizer pra ele que não premeditou nada e que talvez não devesse se sentir culpada – mas ele faz com que você se sinta. Faz com que você sinta o peso de deixar alguém que poderia ter sido perfeito pra você ir embora, mas diz o que eu deveria fazer? Diz pra ele que não é você quem se controla e que você é uma cria do mundo e o universo é quem responde, que teu nome foi riscado e reescrito no meio de encontros e acasos e vai embora sem pedir desculpas.
Você vai se ver trancada dentro de um quarto cheio de histórias que batem feito sinos na sua cabeça. E dilemas. Milhares de dilemas múltiplos de 7 que tornam a tabuada muito mais difícil. Por um lado, você acordou e descobriu que não era ele, que não era aquela vida, que ele não tinha engatilhado nenhum clique em você. Que as coisas eram boas, razoáveis, feito telas semi-preenchidas em uma aquarela funcional. Vai se perguntar o que tem de errado – pra descobrir mais tarde que não tinha nada de errado em não estar feliz. Por outro lado não há nada de errado e ele faz cafuné, gosta tanto de você que finge te entender e diz que você é a responsável pela felicidade dele.
A espinha vai gelar.
Você vai se perguntar por que ele diz isso se você nunca disse nada. Disse que ficaria por aqui e que agiria de forma natural e ele interpretou isso em códigos estranhos que estragaram a mensagem. Ele vai achar que você o enganou o tempo todo e que montou cenário com plateia arredia pra ele não conseguir notar. Que esperou pra ver a cortina levantando e o público acenando e rindo dele, como numa comédia-pastelão-show-de-Truman-tragédia-grega. Você vai se sentir mal, mas vai tomar alguma decisão meio assim, meio “preciso ser feliz e meu lugar não é aqui”. Vai olhar pra trás e ver que não prometeu nada e nunca pediu nada demais. Vai perceber que só queria tentar um amor e descobriu que não era isso. Vai agradecer pela estadia e dizer que vai embora porque não quer arrastá-lo como peso morto. Vai dizer ao Tom que o verão já acabou e que, se ele quiser, o outono fica logo à frente.
E seus amigos vão dizer que ele era legal demais, gentil demais, bom demais pra você. E os amigos dele vão te pregar pra cruz e dizer que você só era uma vadia sem coração que estragou a vida do rapaz. Ele vai quase morrer de amores pra descobrir que só se morre de amor no cinema. E você vai entender que isso não tem a ver com ser egoísta, com enganar alguém ou com não ter coração.
Você vai ser uma Summer algum dia. E vai entender cada parte dela como se doesse dentro de você. Vai ver o lado dela e, caramba, ela é tão humana quanto ele. E justamente por ter coração demais é que deixou uma história de contos de fadas pra trás pra tentar ser feliz numa história que ainda não tinha sido escrita, numa história que talvez só fizesse sentido numa outra estação.
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