O que é ser mulher?
A publicitária Fernanda Mota, 32 anos, carioca com breve passagem por SP, diz que ser mulher é ser livre. Ela ama o que faz, de paixão. E bota o coração em tudo que ama e acredita. Escreve nas horas vagas, às vezes vaga algumas horas só pra escrever. E não dispensa uma boa cerveja.
Por essa postura na vida, Fernanda acabou fundando o tumblr #eusoumulher, que propõe um manifesto e escancara os limites dos estereótipos femininos. Ela sugere que você mostre como você é utilizando a hashtag no Instagram ou mandando a foto pro tumblr pelo e-mail [email protected].
Ser mulher é ser o que você quiser e, pra ela, não existe isso de coisa de homem nem coisa de mulher. A gente concorda muito com essa visão da Fernanda. Aqui no blog mesmo a gente já revisitou conteúdo nosso e percebeu quão impregnado na gente o machismo está. A gente nem percebe e acaba disfarçando nas coisas do dia a dia (como o romantismo). Pedimos as mais sinceras desculpas por isso.
Neste texto, fizemos uma entrevista com a Fernanda pra entender um pouco do contexto do manifesto #eusoumulher.
Abaixo você encontra o manifesto criado por Fernanda e a entrevista que fizemos com ela.
Manifesto #EuSouMulher – Por Fernanda Mota
Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. E jogadora de futebol. E astronauta. E médica.
Não ao mesmo tempo, não necessariamente agora.
Mas tudo. Porque eu quero. Porque eu posso. Porque eu sei.
E se eu não souber, eu aprendo.
Aprendo a usar o garfo certo do peixe, da salada, a taça de cada vinho, mas sento esparramada no sofá porque é mais confortável mesmo.
Abro meus próprios potes de geléia e palmito, mas não me incomodo se tiver um homem pra fazer por mim de vez em quando. Por pura preguiça.
Não sorrio forçada. E xingo se precisar.
Inclusive, tenho um vasto vocabulário de palavrões. Foda-se que é feio menina falar essas coisas.
Fico mal humorada por mil motivos que não têm nada a ver com meu ciclo menstrual ou com a falta de homem ou sexo.
Odeio quando todo mundo tem certeza do que é melhor pra mim.
Bebo cerveja, whisky, vodka, vinho. E água entre um e outro pra não morrer de porre. A dignidade é minha, eu perco se e quando eu quiser.
E, sim, eu vou arrotar mesmo que você faça cara feia e ache ruim.
Até porque, eu prometo pedir sua opinião quando precisar.
Eu quero colecionar brinquedos mesmo depois de adulta, bonecas ou carrinhos.
Amar odiar novela, BBB ou o que estiver passando na TV, que seja só pra falar mal ou ter conversa com as amigas no banheiro.
Chorar no comercial de margarina ou qualquer coisa mais besta sem ser taxada de fresca.
Ou ser, dane-se.
Apenas ser.
Ser tudo, mesmo que não ao mesmo tempo, mesmo que não agora.
Ser.
Ser diferente.
Ser clichê.
Ser mulher.
Entrevista com Fernanda Mota
1) De onde surgiu a ideia do manifesto?
Fernanda: As coisas aconteceram basicamente assim: eu tava recém-chegada numa agência nova e recebi aquele famoso cartãozinho pelo Dia 8 de Março e achei mega rosa e mega clichê. E aquilo não conversava comigo. E se não conversava comigo, provavelmente não conversava com muita gente. Eu resolvi lançar o “desafio” pra ver se era loucura minha ou se mais gente concordava que ser mulher não era mais a mesma coisa que era antigamente. O manifesto surgiu da ideia de explicar pras pessoas esse incômodo e, se eu desse sorte de fazer ele direito, emocionar e inspirar. Mobilizei algumas amigas pra quando desse meia-noite estar tudo rolando e foi bem legal, deu super certo. Sem a Brisa Dalila, nada disso seria possível também. Como aparece em uma das fotos, eu terminei aquele dia chorando muito, de emoção mesmo, de saber que eu não tava sozinha e que tinha tanta mulher foda engajada com aquela “brincadeira”.
2) Na sua visão, quais são os maiores problemas que as mulheres ainda enfrentam nos dias de hoje?
Fernanda: Eu acho que as mulheres ainda passam por vários problemas, alguns generalizáveis, outros específicos, que vão variar de região pra região, em alguns casos por religião, costume, cultura etc. Aqui a gente não passa por coisas que as mulheres na África passam, mas no próprio Brasil nós vemos disparidades. Essa lista é complicada, porque ela vai da diferença de salário pros homens até o fato de não termos controle real sobre nossos corpos.
3) Como foi a recepção do manifesto pelas pessoas?
Fernanda: A recepção foi positiva. Uma das pessoas pra quem eu enviei, pra testar o conteúdo, foi a Clara Averbuck. E quando ela disse “É isso” e me mandou um emoticon meio chorandinho, eu soube que era isso mesmo.
4) O que te dá mais raiva no cotidiano machista?
Fernanda: O que me dá mais raiva é quando dizem que a gente inventa o machismo e que a gente procura coisa pra apontar machismo. Além disso, o peso negativo que “ser feminista” ganhou por conta de algumas manifestações extremistas. Quando questões polêmicas surgem, sempre tem quem alerte “quero ver a cara das feministas”, ou todas as variações bacanas dos estereótipos atrelados à entidade feminista. Você sabe, né? Tudo sapatão, falta de pau, mal amada, tudo feia, essas coisas. Também acho interessante como tanta gente consegue lançar o carimbo do “ah, essas feministas chatas” pra cortar discussões ultra válidas e importantes. Funciona pra outras tags também, claro.
5) Ainda resta esperança no fim do túnel quanto a percepção dos homens sobre as mulheres?
Fernanda: Eu espero que sim, desde que ambos os lados baixem as guardas e entendam que o fim que se busca é bom pra todo mundo. Eu, por exemplo, sempre digo que, se pararem pra olhar direitinho, o feminismo batalha, também, pela libertação dos homens. Dia desses eu li sobre como em países mais igualitários as mulheres são mais bem sucedidas e os homens são mais saudáveis e felizes. Ou seja… esperança.
6) O que significa “ser mulher”?
Fernanda: Significa você ser verdadeira com o que é, não tem uma regra. Eu, por exemplo, sou feminista, tô sempre ali brigando contra os estereótipos princesinha cor-de-rosa mimimi mocinha que não pode sentar assim ou assado, mas chego em casa do trabalho e vou fazer jantar pra mim e pro meu marido. E eu AMO isso. O que faz diferença é que eu e meu marido chegamos numa fórmula que funciona pra gente. Dentro de um relacionamento, é importante saber que tem duas pessoas. E eu, pelo menos, acredito que só dá certo quando ambas aprendem a ser mais juntas, em vez de uma anular a outra.
7) Pra finalizar, como você se descreveria? Fernanda Mota por Fernanda Mota é…
Fernanda: Eu sou um pouquinho do que todo mundo vê em mim (eca, mas verdade).Não que eu tenha muitas caras, mas que cada um conhece só o que faz sentido conhecer de mim. Não sou dessas pessoas públicas, que conta tudo que faz e deixa todo mundo saber de tudo. Mas também não sou dessas que vive atrás de cadeadinhos.
Eu sou muito honesta e direta, o que muita gente entende como grosseria.
Tá, se eu tiver que resumir (nossa, eu resumir…) quem eu sou, eu acho que eu sou alguém que tá disposta a levar algumas (várias) porradas da vida e dos outros pra tentar construir um mundo melhor pras próximas gerações que vierem.
Quando eu era mais nova, a melhor amiga da minha mãe me deu uma camiseta que resume bem esse espírito: Não mije no mar, os peixes moram lá. Ou seja, eu quero que outros peixinhos possam nadar nesse nosso mar.
–
*Para fins de direitos autorais, declaro que as imagens utilizadas neste post não pertencem ao blog.