Você é mais um dos nossos brasileiros.


Arrepio. Foi o que eu senti ao ver as fotos dos manifestos pelo país. Começando por uma placa onde se lia “Verás que um filho teu não foge à luta” de um manifestante mascarado em SP. Eu me arrepiei. Sentado em frente ao computador, lendo por dias sobre as reais causas da descontentação nacional – que não se mostrava em um movimento popular há anos. Depois disso, vi vídeos dignos de filmes de Guerra. Combates, corrida, desespero, destruição. Tudo isso pra me lembrar que há caos antes de toda grande mudança. É o sinal de que as coisas estão saindo do lugar comum que a gente tá acostumado a conhecer.

Repressão policial, comandanda por quem sente o medo que esse caos pode trazer. O brasileiro, ainda que não esteja em sua maioria nas ruas, começa a pensar de forma diferente. O ciberativismo nunca antes foi tão útil nesse país. No Facebook, uma dualidade que assusta: saímos do Facebook para as ruas e nele trazemos o que aprendemos nas ruas e o que estamos vendo nelas. Discutimos sobre política, educação, aplicação de verba pública, abusos polícias e significados de poder. E começamos a perceber que quem governa esse país só tem poder porque controla o povo de certa forma. Povo, esse palavra que tomou um significado completamente diferente pra mim na última semana. Povo esse que eu nunca imaginei ver indo às ruas e bradando o Hino Nacional como forma de protesto e não como obrigação escolar de toda segunda-feira do mês – pelo menos no meu colégio era assim. E daí invadem o Congresso Nacional num ato pacífico de Brasília.

Ainda que seja cedo demais pra inferir algo, eu posso dizer que o brasileiro está aprendendo a ter uma nova concepção do que é ser brasileiro. Pelo menos eu estou. Pela primeira vez nos meus 21 anos de idade, vejo o brasileiro indo às ruas por uma razão comum que não tem a ver com Copa do Mundo, fim de Avenida Brasil ou o campeonato do Big Brother Brasil. Vejo essa gente toda que deveria chorar com os efeitos do gás lacrimogênio estampando sorrisos e cartazes dos mais variados no meio de uma onda pacífica. Sem fechar os olhos, é claro, pra um percentual minusculo e mal intencionado que acaba ferindo os pedidos de “não-violência” para deslegitimar o movimento. As balas de borracha marcam, mas esses dias vão marcar mais ainda nos livros de História do futuro.

Amigos, essa é uma das poucas vezes em que senti arrepio por quem vive aqui. Arrepio por ver que o brasileiro começou a entender o que o seu Hino diz. Arrepio por ver tanta gente que podia continuar exatamente onde está se indignando e pensando mais, discutindo mais, agindo mais. E cada um ajuda da sua forma. Indo pra rua ou tentando mudar a cabeça das gerações que ainda acreditam nos “baderneiros”. E esse esforço já possui visíveis rastros. Quanto mais se bate nesse brasileiro, mais forte ele fica. Ele acorda, sim. O brasileiro se torna um gigante e acorda a esperança que ele tinha dentro dele. Esse sentimento de unidade e pertencimento que a gente tanto tenta pregar com o conceito de patriotismo. Esse brasileiro que é um amigo meu da faculdade, ou do trabalho, ou um conhecido que passou por mim segurando uma placa e me convidou a aderir ao que a gente chama de revolução. Não, eu não tenho orgulho do Brasil. Eu tenho orgulho desse brasileiro que tá se desculpando pelo transtono causado pela tentativa de mudar o país.

Ainda que se fale em utopia, em sonhos, em modinha e tudo mais, eu espero que esse brasileiro que eu vi nessa semana possa contagiar mais gente. A geração dos meus irmãos, a geração dos meus filhos e quem mais vier por aí. Eu até ouvi uma senhora dizer que achava que a juventude brasileira tinha se perdido depois de 1992 e que ela tinha se enganado bruscamente depois dessa semana. Isso não é lá razão pra sorrir e se orgulhar de você mesmo?

Nesta segunda-feira, 17 de Junho de 2013, 100 mil pessoas tomaram as ruas do Centro do Rio de Janeiro. 100 mil pessoas numa segunda-feira em prol de um objetivo em comum. Não tinha marchinha nem trio elétrico. Não tinha Ivete ou Monobloco ou Cordão do Bola Preta. E nem era carnaval.

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