É proibido ser você mesmo – Uma ode ao politicamente incorreto


Isso pode. Aquilo não. Você não deve fazer isso. Essa coisa é errada. E assim são escritos os manuais de etiqueta da sociedade que bane e pune toda e qualquer pessoa que pisa fora da linha. Quando o assunto é ainda mais específico e fala sobre comportamentos que não têm nada de ilegal e não possuem regras escritas, a opinião coletiva sugere que cada ser humano deve agir como a vontade da maioria.

A gente já caiu no clichê de discutir inúmeras vezes se uma mulher que dá no primeiro encontro deve ou não deve ser taxada de puta. E pra discutir isso não precisa ter cabeça aberta ou ser um puritano extremista: é preciso apenas ter opinião sobre qualquer coisa. Essa coisa de que o importante é julgar tem sido fortalecida ao longo do tempo e, cada vez mais, todo e qualquer comportamento se tornou passível de crítica, seja ela fundamentada ou não. O importante é que você atue de forma que não provoque ninguém e não tire ninguém da sua zona de conforto. O importante é que a roupa que ela usa seja comportada ao ponto de fazer com que ninguém repare ou vire o pescoço para olhar. O importante é que ele fale de uma maneira robótica e padrão para que ninguém se incomode com o discurso dele. O importante é andar pelo mundo sem fazer barulho.

O importante é se ater às convenções. Mesmo se a gente pensar que sexo é um assunto destinado apenas às pessoas envolvidas no ato e ninguém mais, os outros sempre serão julgadores de qualquer ação individual ou conjunta (ainda que isso não envolva ninguém de fora). O que acontece é que sair da linha do que é considerado aceitável causa estranheza. Mulheres falando sobre sexo abertamente em mesa de bar é feio. Homem se negando a fazer sexo porque teve um dia difícil indica um princípio de homossexualidade. Ela faz isso, é puta ou vagabunda ou ordinária ou piranha. Ele faz isso, é viado ou gay ou não gosta de mulheres ou não vale nada. Inclusive credenciais que indicam o contrário: ela é frígida, ele é safado, ela é um porre, ele só fala disso. E por aí vai. A liberdade sexual, tanto feminina quanto masculina, sofre ataques constantes da opinião pública (a sua opinião). E, ao invés de liberdade, estabelecemos um aprisionamento. Matamos a diversidade de comportamento em prol do sossego. Calamos a nossa vontade e liberdade de expressão para não provocar ninguém. Abrimos mão de sermos nós mesmos.

E esse foi só um tópico sobre uma das muitas formas que obrigamos a nós mesmos a sermos outras pessoas. É proibido ser você mesmo porque isso é feio, ruim e faz com que te olhem de lado. O politicamente incorreto, ao invés de ser imposto como erro, deveria ser exaltado. Você deveria largar mais os olhares de rabo de olho e usar a cor que quiser, faça sol ou chuva. Você deveria falar sobre todo tipo de coisa que se sinta confortável em falar, ignorando os que não estiverem envolvidos na conversa. Você deveria respeitar as opiniões alheias, mas não tratá-las como base das suas. Você deveria discordar, levantar a mão, se recusar a caminhar na direção do fluxo e fazer barulho. Aliás, você deve fazer barulho e tocar na ferida deles. Se exaltar, falar alto, gritar palavrões, pedir desculpas,  cagar pro orgulho, correr atrás, gostar daquele programa de televisão idiota, ir mal numa prova, dizer “eu te amo” pra gente do sexo ou cor ou raça ou religião que quiser, abandonar o altar porque bateu vontade e usar o tipo de roupa que cair bem no seu corpo. Você conquistou o direito de ser politicamente incorreto e defender essa espécie de ideologia. Você pode até mesmo ser clichê como esse texto ou tentar aprofundar melhor todas as ideias aqui resumidas. O importante é que você seja você, mesmo que isso seja politicamente incorreto.

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