Vocês são exatamente todos iguais


Por que você não me quer como os outros caras querem? Eu digo isso porque já reparei que os seus olhos se mantém firmes nos meus e não descem pro meu decote. Apesar de saber que você o arrancaria com os olhos se pudesse. E já percebi que você suspira quando eu levanto e enceno um rebolado discreto enquanto ando. Mas o meu cruzar de pernas não te afeta tanto assim. Você não é um moleque desses que descarrega testosterona enquanto perde neurônios e troca a fala interessante pela baba. Você tem um papo que revela um interesse desinteressado e eu fico sem saber qual é a sua. Por que você não faz o que todos os garotos fazem?

Eu te encaro enquanto eles encaram o meu corpo. Meu ego agradece enquanto eles batem palmas e me despem com os olhos. Só que você prende a minha atenção de uma forma estranha. Você finge tão bem que eu poderia sentar no seu colo e mudar o jogo a meu favor. Só que eu acho que eu ganho da mesma forma. Você devia ensinar a eles que pra ser homem é preciso calma. Mesmo que o desejo dê sinal de vida, você precisa disfarçar. Se vocês se entregam de bandeja, a gente pede a conta e vai embora. Porque a gente sabe que é só chamar o garçom e vocês voltam de bandeja sempre que a gente quiser. Você precisa ensinar a eles que a nossa máxima de que “todos os homens são iguais” é apenas um teste. Não precisa ser levada a sério, mas precisa ser contrariada. Porque a gente sabe que vocês podem ser canalhas no final, mas no início o apelo tem de ser diferente. Senão a gente escolhe qualquer um por tempo limitado e depois entra num táxi pra ir embora. Você devia ensinar muita coisa a eles. Mas antes é preciso que você me ensine a ganhar você.

Imagine que o tempo possa congelar agora e todo mundo nesse local congelaria junto. Se eu tirasse a roupa e andasse por aí, eles não poderiam me tocar. Mas homens têm uma ferocidade natural que move os olhos. Eu desfilaria nua e sentiria olhares me rasgando a pele. Menos o seu. O seu me atravessaria de alguma forma e me faria largar o ar sóbrio. Acho que você me embriagaria de um jeito severo se me levasse pra cama. Eu já gostei do seu perfume e ainda nem senti o seu suor. Aposto que você não é doce assim sem as suas defesas sociais. E também não sei bem se posso chamar isso de defesa. Para mim, você ataca com o desinteresse. Toda mulher se sente pessoalmente ofendida se não for desejada pelo homem com quem está sentada à mesa. E sente a curiosidade com o desafio de fazer-se notada. Como é que eu posso mantê-lo salvo de mim a partir de agora?

Já retoquei o batom três vezes e você só ri das coisas que são realmente plausíveis. A bebida é boa e você prometeu cozinhar pra mim sem dia marcado. Só que às vezes eu penso se não seria melhor que você fosse um garoto ao invés de ser um homem. Agora eu já me pergunto se não te falta o tempero do descontrole adolescente ou se a minha maturidade foi pro espaço com a rejeição. Mulher rejeitada possui o pior veneno que um homem pode provar. Se você não me quiser agora, eu me apaixono. Acho que você deveria ensinar a eles todos como conquistar uma mulher. Porque a gente não gosta de desprezo, mas o desinteresse forjado causa arrepios. É como se você pisasse de salto agulha no meu orgulho. E eu gosto desse masoquismo romântico. No fundo, toda mulher gosta. Até que os seus olhos baixaram em direção às minhas pernas. Que decepção. Você me quer exatamente como os outros caras querem. Só que escolheu as coxas ao invés dos peitos. E você quase me ganhou. Mas pode passar a mão discretamente por cima delas e me convidar para a sua casa. Pode deixar que eu não bato a porta na hora de ir embora amanhã de manhã.

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