Estrangeiro. Sempre fui desse tipo de homem que visita um coração. Visitante, sabe? Nunca fiquei por muito tempo e sempre conduzi a minha visita aos pontos principais. Trazia flores e enfeitava a dona da casa. Trazia o meu sorriso sincero de quem está maravilhado com a vista nova, mas sabia que nunca ia ficar por muito tempo. Minhas credenciais diziam claramente quão efêmero eu seria assim que pusesse os pés em algum amor que não obedecesse as fronteiras da minha segurança.
Passageiro. Eu nunca deixei a minha zona de conforto de lado para tentar estabelecer amor dentro de alguma turbulência. E também sempre achei muito mais bonita essa imagem de um passante. E há um quê de intensidade e verdade no olhar de alguém que não pertence ao lugar. As fotografias enquadram olhares, palavras não ditas, paixões bem vividas. E não me chamem de leviano, porque eu sempre compro passagens de ida e volta. E aviso no momento da minha chegada que a hospedagem tem data certa para chegar ao fim. Mas sabe o que é? As pessoas se encantam pelo desafio de me fazer estabelecer rotina num lugar tão remoto quanto um coração. Algumas até conseguem me fazer aumentar o prazo de estadia, mas ninguém conseguiu me fazer largar as minhas viagens ao redor do mundo para fixar um lar.
Forasteiro. É assim que me chamam ao ouvir as minhas histórias. Ou de canalha, talvez. E a cada mês é um lugar diferente. Existe tanta beleza por cada um desses lugares. São alguns corações sem esperança, aconchegantes, que me expulsam antes do término do prazo, que me pedem pra ficar com lágrimas nos olhos. São tantas cores de cabelos, desde os castanhos mais bonitos e amadeirados até os vermelhos cor-de-fogo. E os olhos também me mostram a entrada de cada um desses lugares com suas cores mais vibrantes. Os olhos acompanham as cores dos lugares por onde andei. Desde o azul turquesa cujo coração é leve e pulsante como o mar grego, bem como o preto grafite dos olhos de uma fera cujo coração possui barreiras maiores que a Muralha da China.
Mas, olha, dia desses pode ser que eu canse de admirar o mundo por aí e decida parar em algum lugar. Algum lugar cuja dona me permita ficar e seja minha guia. Cujas cores eu ainda não tenha visto. Cujos ventos me surpreendam de tal maneira que me façam escolher moradia e chamar de lar. Algum lugar com olhos profundos e lábios molhados de água de chuva de verão. Algum lugar com pouco significado, com poucas explicações e muito sentido. Mas, por enquanto, eu vou andando por aí e conhecendo o mundo.
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